Pesquisas campeãs nas áreas de biodiversidade e conservação exploram novas possibilidades para um planeta mais sustentável
Com suas atividades bioativas, antioxidantes e anti-inflamatórias, os compostos fenólicos da semente de açaí podem ser a chave para que frutos durem mais antes de mofar e para a criação de cosméticos com origem natural. Catalogar diferentes vírus de origem marinha ajuda a entender uma parte ainda cheia de mistérios nos ecossistemas do planeta e como ela está mudando.
Essas pesquisas e análises são resultado de dois estudos científicos premiados pela Natura e pela CAPES. Essas descobertas só existem por causa da curiosidade e empenho de dois pesquisadores brasileiros. Ambos acreditam que a natureza é uma fonte inesgotável de aprendizado e que uma visão generosa para tudo que ela pode oferecer gera, além de inovação, um claro senso de dever e cuidado. Esse olhar foi fator determinante para que Priscilla Melo e Felipe Hernandes Coutinho fossem escolhidos como vencedores da segunda edição do Prêmio Capes Natura Campus, realizado em novembro de 2018 na sede da Natura em Cajamar. Com sua ótica diferenciada e única, as pesquisas vencedoras reiteram a necessidade de tornar o conhecimento sobre recursos naturais uma pauta prioritária não apenas na Natura, mas em todas as empresas brasileiras.
Priscilla Melo foi a vencedora na categoria biodiversidade. A pesquisadora da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ) da USP, em Piracicaba, teve apoio financeiro da Fapesp para conduzir seu estudo e escrever o artigo Antioxidative and prooxidative effects in good lipids and synergism with A-Tocopherol of açaí seed extracts and grape rachis extracts, publicado na revista científica Food Chemistry. Ele tem como proposta avaliar resíduos agroindustriais como fontes de antioxidantes naturais, visando a substituição dos antioxidantes sintéticos usados pela indústria atualmente. “O Brasil, com sua economia fortemente baseada no agronegócio, produz grande quantidade de resíduos sólidos como resultado das suas atividades agroindustriais”, aponta Priscilla, que deu os primeiros passos de sua pesquisa em 2008. “A maior parte desse material não possui utilidade sendo descartada ao meio ambiente.
Por isso, havia o desejo de buscar alternativas para o reaproveitamento desses materiais e, consequentemente, contribuir para a diminuição do descarte deles no meio ambiente e para a sustentabilidade da cadeia agroindustrial.”
Para realizar seu trabalho, a pesquisadora fez coletas no Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia e Pernambuco. Estudou resíduos de tomate, goiaba, café, laranja, cupuaçu, cajá, uva e açaí. Por meio de um screening, descobriu que os dois últimos foram os resíduos orgânicos que mostraram melhores resultados, possuindo altos teores de compostos fenólicos, que têm potencial antioxidante e anti-inflamatório. Os resultados foram animadores, uma vez que os resíduos agroindustriais podem representar até 30% do montante de uvas processadas, enquanto no açaí, a semente representa, sozinha, cerca de 70% do volume do fruto. Além disso, os compostos fenólicos ainda conseguiram inibir, em ensaios conduzidos in vitro, espécies reativas que são prejudiciais ao organismo.
“Temos uma grande oferta de matéria-prima para a extração de compostos bioativos, que podem se tornar aditivos naturais a serem usados pelas indústrias de alimentos, cosmética e farmacêutica”, diz Priscilla.
No caso do açaí, o uso da semente também agrega valor ao produto, podendo beneficiar comunidades que o cultivam e comercializam, gerando, por consequência, maior valorização da biodiversidade nacional.Industrialmente, antioxidantes sintéticos como o BHA, BHT e TBHQ são utilizados em produtos com alto teor de ácidos graxos insaturados, que são mais suscetíveis à oxidação. Aditivos sintéticos estão presentes em alimentos como maionese e margarina, por exemplo. Com o avanço de sua pesquisa, Priscilla acredita que a substituição de antioxidantes sintéticos por compostos naturais nesses produtos pode se tornar uma alternativa na indústria alimentícia. Outra possibilidade é, também, a criação de alimentos funcionais, que podem trazer ainda mais benefícios à saúde – tudo a partir do aproveitamento de matérias-primas que, hoje, são descartadas.
Já na categoria conservação, o prêmio foi para Felipe Hernandes Coutinho, autor do artigo Marine viruses discovered via metagenomics shed light on viral strategies throughout the oceans. O pesquisador, que atualmente está realizando estudos na Universidad Miguel Hernández de Elche, na Espanha, iniciou o projeto em 2013 na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), motivado pelo pouco conhecimento existente sobre a biodiversidade de vírus nos oceanos. “Algumas perguntas direcionaram o estudo: que organismos são infectados por esses vírus marinhos? Qual a extensão da diversidade genética deles? E como essa diversidade está relacionada a fatores ambientais?”, questiona Felipe. Analisando temperatura da água e disponibilidade de luz, seu estudo descobriu milhares de fragmentos de genomas de vírus marinhos e suas características. “Observando a evolução desses vírus, descobrimos que vários deles são espécies novas, nunca antes caracterizadas”, diz.
Felipe ressalta que a descoberta é importante porque a literatura ainda conhece pouco sobre vírus marinhos. Associando a existência deles com parâmetros ambientais, é possível elucidar como a diversidade desses seres está distribuída no ambiente. “Os vírus têm um papel central no funcionamento dos ecossistemas marinhos, principalmente mediando a ciclagem de nutrientes”, explica. “Mas sabemos pouco sobre como esse papel pode ser influenciado por luz e temperatura. O nosso trabalho ajuda a entender quais micro-organismos são alvo desses vírus, servindo como fontes de nutrientes no ambiente marinho.”
Entre as áreas pesquisadas por Felipe estão os recifes de coral de Abrolhos, um ecossistema brasileiro ameaçado por conta da ação humana.
A conclusão do trabalho naquela região trouxe esperança: os vírus presentes no oceano daquele ambiente são, além de uma descoberta, um relatório detalhado que aumenta o interesse da comunidade científica brasileira e estimula pesquisas multidisciplinares focadas em conservação como a do pesquisador. Sua análise, que englobou virologia, ecologia, biologia marinha e genética, é a prova da capacidade de conectividade da natureza.
Para Priscilla, o reconhecimento também pode e deve chamar a atenção da indústria, para que a criação de novos produtos busque alternativas naturais com mais frequência. “No Brasil, de forma geral, a pesquisa científica enfrenta certa dificuldade para se aproximar da sociedade e da indústria. Iniciativas como o Prêmio Capes Natura Campus são de extrema importância, pois representam um elo que facilita essa comunicação”, diz.
A Natura acredita na ciência como forma de transformar o mundo em um lugar melhor. Em promover o bem-estar e o cuidado do planeta por meio de soluções tecnológicas com potencial de chegar às mãos de cada pessoa. Com isso, valoriza os pesquisadores brasileiros, que são extraordinariamente talentosos, e estabelece parcerias com entidades promotoras do desenvolvimento científico como a CAPES. De forma pragmática, o prêmio permite à Natura mapear novas tendências e tecnologias emergentes que possam se somar aos seus esforços de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
De forma mais ampla, a realização do Prêmio é um sonho realizado e, mais do que isso, a certeza de que é um sonho que é só o início, de uma jornada positiva para toda a rede de relações da Natura e para a sociedade.
Em 2019 será lançada a III Edição do Prêmio CAPES – Natura Campus e mais ciência vem por aí! Fique ligado!