Sustentabilidade

Patricia Moreira

Em nenhum lugar do mundo existem mais espécies de animais e de plantas do que na Amazônia ...

Valorizando a nossa biodiversidade

Em nenhum lugar do mundo existem mais espécies de animais e de plantas do que na Amazônia, tanto em termos de espécies habitando a região como um todo (diversidade gama), como coexistindo em um mesmo ponto (diversidade alfa). O bioma amazônico estende-se do oceano Atlântico às encostas orientais da Cordilheira dos Andes, até aproximadamente 600 m de altitude, contendo parte de nove países da América do Sul, sendo 60% deste bioma pertencente ao Brasil (1) e 50% do território brasileiro representado por ele. O bioma Amazônico contém mais da metade das espécies vivas no Brasil e, em torno de 10-20% de todas as espécies existentes no planeta.

Apesar desta megadiversidade, conhecemos apenas aproximadamente 10% de toda esta riqueza (2). Conhecer as espécies é base para qualquer planejamento visando à conservação de espécies nativas, pois não existe preservação e manejo de algo desconhecido (2). Além disso, a floresta só deixará de ser destruída se tiver valor econômico para competir com a madeira, a pecuária e com a soja (3), constituindo o desafio atual da Ciência e Tecnologia de um desenvolvimento sustentável para a região considerando uma política da floresta em pé (4), onde o modelo de produção e consumo dos recursos naturais permitam o desenvolvimento social e econômico da região e a conservação da natureza e dos povos que a habitam.

Neste contexto, o desenvolvimento de ingredientes vegetais oriundos de prospecções sistemáticas é uma das formas mais diretas de viabilizar o desenvolvimento sustentável da região considerando a política de floresta em pé.

Para desenvolver um ingrediente vegetal de forma sustentável são necessárias diversas competências que incluem biólogos, químicos, engenheiros, agrônomos, entre outros. Estes profissionais aportam conhecimentos relacionados às diferentes fases do desenvolvimento do ingrediente vegetal que incluem (mas não esgotam): a prospecção sistemática de espécies vegetais com potencial comercial e sua correta identificação; o estabelecimento de rotas de extração sustentáveis para a obtenção de ingredientes; caracterizações fitoquímicas; prospecção de atividades biológicas de interesse; estudos de sazonalidade química, além de no final do processo, aportarem todo o conhecimento necessário para viabilizar e estabelecer a cadeia do fornecimento do ingrediente na quantidade necessária para suprir a necessidade do mercado dentro do conceito do triple bottom line – ambientalmente correto, economicamente viável e socialmente justo.

Ingredientes vegetais são interessantes devido a sua diversidade química, que é única em cada ingrediente e que dependem da parte da planta usada e a rota de extração utilizada. Esta complexa matriz de moléculas pode atuar sinergicamente sobre um alvo biológico e tem sido fonte de inspiração para mais da metade das novas drogas introduzidas no mercado nos últimos 25 anos (5). Por exemplo, o salgueiro branco Salix alba foi a fonte original para a aspirina, enquanto uma das drogas mais conhecidas para o câncer, o paclitaxel (Taxol®) é proveniente da casca do teixo do Pacífico.

A demanda por produtos de higiene pessoal e cosméticos formulados com ingredientes naturais já está bem estabelecida na Europa, Ásia e Estados Unidos e representa hoje, uma forte diretriz de inovação no mercado mundial. Globalmente, o número de novos produtos para tratamento de pele com o principal claim sendo o uso de ingredientes naturais vegetais cresceu de <900 em 2005 para >6.000 em 2012, sendo o segundo maior benefício explorado nos mercados analisados, logo após hidratação (6).

Ainda que a maior parte do mercado adote a prática de incorporar apenas alguns ingredientes “naturais” em suas formulações como estratégia para seguir as novas tendências, e pelo fato que poucas são as empresas que detém as tecnologias necessárias para a produção de cosméticos com componentes exclusivamente naturais (all natural) – considerando ingredientes, cadeias de produção de insumos, processos produtivos e embalagens, a Natura optou por adotar uma estratégia coerente de evolução e desenvolvimento, com o investimento no desenvolvimento de ingredientes vegetais que possibilitem a vegetalização de seu portfólio de matérias-primas como forma de sustentar suas crenças em uma atuação cada vez mais ambientalmente correta e que permita o desenvolvimento sustentável ao longo das cadeias de fornecimento/produção/reciclagem.

Como parte da sua estratégia e investimento em ingredientes vegetais, a Natura acabou de lançar o PRÊMIO INGREDIENTES VEGETAIS AMAZÔNICOS  que visa reconhecer e premiar um cientista da região amazônica que contribuiu regionalmente para o avanço da ciência de desenvolvimento de ingredientes vegetais do bioma amazônico com alguma atividade biológica prospectada. O prêmio é restrito à região amazônica legal brasileira devido a uma estratégia da Natura em ser um vetor na criação de negócios sustentáveis a partir de ciência, inovação e empreendedorismo com foco na sociobiodiversidade Amazônica e na valorização do conhecimento tradicional e cultural da região.

CONVIDO, PORTANTO, VOCÊ PESQUISADOR A DIVULGAR PARA SUA REDE E A PARTICIPAR DO PRÊMIO INGREDIENTES VEGETAIS AMAZÔNICOS, CASO SEJA PESQUISADOR DA REGIÃO AMAZÔNICA! 

E deixo aqui também a minha provocação: quais seriam as outras estratégias de desenvolvimento sustentável para a região amazônica contemplando a floresta em pé? Se você tiver alguma ideia, compartilhe...

 

 Patrícia da Luz Moreira possui Bacharelado e Licenciatura em Ciências Biológicas, mestrado em Biologia Celular e  Estrutural e doutorado em Biologia Celular e Estrutural com um período sanduiche na Medical University of South  Carolina, EUA. Atualmente é Gerente Científico na Natura e atua no Núcleo de Inovação da Natura Amazônia,  coordenando projetos de pesquisa para a prospecção e desenvolvimento de ingredientes vegetais. 

 

Referências

1. Ferreira, LV, Venticinque, E e Almeida, S. O desmatamento na Amazônia e a importância das áreas protegidas. Estudos Avançados. 2005, Vol. 19, pp. 157-166.

2. Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Cadernos da SBPC - Conhecer para preservar. 2007.

3. Becker, Bertha K. Geopolítica da Amazônia. Estudos Avançados. 2005, Vol. 19, pp. 71-86.

4. Academia Brasileira de Ciências. Amazônia: desafio brasileiro do século XXI. 2008.

5. National Institutes of Health. Nature: The Master Medicine-Maker. Life Science. 04 de maio de 2011.

6. Mintel Group Ltda. Facial Skincare - Latest Product Launch Activity. 2013.