Inovação em Produtos Cosméticos

Maria Cristina Valzachi

Desde os tempos mais antigos, o ser humano faz uso das cores para expressar seus sentimentos e valores ...

Quando as cores falam por nós

Desde os tempos mais antigos, o ser humano faz uso das cores para expressar seus sentimentos e valores. As tribos indígenas usam pigmentos naturais para colorir seus corpos e têm pinturas específicas para rituais de comemoração, agradecimento ou guerra. As cores de uma bandeira são criteriosamente escolhidas para representar os pontos que se deseja realçar de um país ou movimento. Quando escolhemos uma roupa, por mais bonita que ela seja certamente não a vestiremos se a sua cor não nos agradar. A pergunta lançada pela nova campanha da Natura “De onde vem essa sua vontade de pintar a cara?” despertou minha curiosidade. Beleza, realce e expressão são, a meu ver, o que buscamos quando colorimos nossos rostos e corpos, mas será que as cores são capazes de gerar alguma influência sobre nós?

Um estudo publicado na Nature, em 2005, mostrou um resultado surpreendente a respeito do impacto das cores nos uniformes de lutadores. Nos jogos olímpicos de 2004, atletas de quatro modalidades esportivas de combate (boxe, tae kwon do, luta Greco-romana e luta livre) receberam uniformes vermelhos ou azuis de forma aleatória. Surpreendentemente, a estatística mostrou que os participantes com uniformes vermelhos venciam mais lutas do que os que vestiam azul, em todas as modalidades avaliadas. Em 16 dos 21 rounds disputados na competição houve mais vencedores vermelhos, e em apenas quatro deles os azuis lideraram. O resultado se manteve entre as classes de peso: em 19 das 29 classes houve mais vencedores vermelhos, contra apenas seis com mais vencedores azuis (Hill e Barton, 2005).

Certamente a cor do uniforme não é determinante da vitória ou derrota, mas esse trabalho deixa claro que, de alguma forma, os tons podem interferir em nosso comportamento. Uma hipótese para os resultados encontrados é a de que eles poderiam estar relacionados com o fato de que o vermelho é a cor do sangue, nossas faces ficam rubras quando ficamos com raiva, e isso poderia ser um sinal percebido instintivamente em uma luta. E em nosso dia a dia, que outros tipos de influência as cores seriam capazes de exercer em nossa percepção?

Um trabalho usou doces de chocolate cobertos com açúcar colorido (popularmente conhecidos) para mostrar que as cores influenciam nosso paladar. Os doces vermelhos e verdes tinham o mesmo sabor, e os doces laranja tinham gosto diferente, no entanto apenas alguns participantes do teste sabiam disso. Quando chamados para comparar os pares de chocolate e dizer se tinham o mesmo sabor, o grupo daqueles que acreditavam que os doces vermelhos e verdes eram idênticos acertavam o teste, isto é, respondiam corretamente que ambos tinham o mesmo gosto, enquanto os participantes que acreditavam que cores diferentes correspondiam a sabores distintos diziam, na maioria das vezes, que o gosto era diferente e erravam o teste. No entanto, este grupo teve um aumento significativo no índice de acertos quando o mesmo procedimento foi realizado com os olhos vendados, isto é, sem a influência da visão, os indivíduos perceberam que os doces vermelhos tinham o mesmo gosto dos verdes (Levitan et al., 2008).

O mais interessante nesse trabalho, é que os pesquisadores escolheram um produto que era familiar a todos os participantes, e mesmo assim, o fato de não poderem ver as cores tornava muito difícil o reconhecimento do sabor. Outro estudo recente reforçou a importância dos tons sobre nossos sentidos e mostrou que a cor do recipiente em que o chocolate quente é servido pode influenciar na percepção da bebida. A pesquisa contou com 57 participantes, os quais provaram amostras de chocolate quente em recipientes do mesmo tamanho, mas com cores diferentes. Os resultados mostraram, de forma curiosa, que a bebida servida em xícaras laranja ou creme foi percebida como mais gostosa (Piqueras-Fiszman e Spence, 2012). Esses exemplos dão uma pequena ideia do que pode estar por trás do nosso interesse por cores e podem ajudar a entender o que nos faz querer pintar a cara.

 

Referências

Hill RA, Barton RA. Red enhances human performance in contests. Nature. 2005;435:293;

Levitan CA, Zampini M, Li R, Spence C. Accessing the role of color cues and people’s beliefs about color-flavor associations on the discrimination of the flavor of sugar-coated chocolates. Chem. Senses. 2008;33:415-23;

Piqueras-Fiszman B, Spence C. The influence of the color of the cup on consumer’s perception of a hot beverage. Journal of sensory studies. 2012;27:324-31.

Figura: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/7f/Liberia_dancing_girl.jpg?uselang=pt-br