Bem-estar e Ciência das Relações

Claudia Pellegrino, Patricia Tobo, Helder Kamei

Pesquisa cientifica realizada em 2010 pela área de ciências de bem estar e relações da Natura valida a combinação do toque e atividades lúdicas para aumentar o bem-estar e fortalecer o vínculo entre avós e netos. ...

Avós, netos e nova linha da Natura

Pesquisa cientifica realizada em 2010 pela área de ciências de bem estar e relações da Natura valida a combinação do toque e atividades lúdicas para aumentar o bem-estar e fortalecer o vínculo entre avós e netos.

Nas últimas décadas, ocorreram grandes mudanças em relação ao modo e estilo de vida, nas dimensões social, cultural e econômica. Esta mudança também afetou as relações entre as gerações e isso pode ter levado a um certo distanciamento entre avós e netos. Sabemos que o envolvimento emocional, o diálogo e o tato conseguem expressar amor, confiança, afeto, calor humano e pode ser o elo de uma reaproximação entre as diferentes gerações.

Com o avançar da idade, aumentam as dificuldades de audição, acuidade visual, mobilidade e vitalidade, aumentando, assim, as necessidades táteis. 

"No envolvimento emocional do tato se consegue comunicar amor, confiança, afeto e calor humano ao idoso" (MONTAGU, 1988).

De acordo com pesquisas de Ashley Montagu, “a linguagem dos sentidos, na qual podemos ser todos socializados, é capaz de ampliar nossa valorização do outro e do mundo em que vivemos, e de aprofundar nossa compreensão em relação a eles”. Tocar é uma das principais linguagens dos sentidos já que atesta a existência de uma realidade que vai além do eu e é um dos meios mais poderosos de criar relacionamentos humanos.

A massagem é uma das intervenções desenvolvidas para diminuir o estresse, aliviar a ansiedade, melhorar a circulação e, de um modo geral, estimular um estado de bem-estar. O desenvolvimento, por várias culturas, de alguma forma de terapia de toque sugere que as diferentes formas de massagear são manifestações naturais do desejo de curar e cuidar uns dos outros. A massagem é, provavelmente, uma das formas mais bem documentadas de terapias complementares e é uma técnica amplamente utilizada (http://www.ccnursing.theclinics.com/article/S0899-5885(02)00103-X/fulltext).[b1]  Entre as diferentes técnicas de massagem validadas em todo o mundo, destaca-se em especial a massagem rítmica, desenvolvida por Ita Wegman e Margarethe Hauschka, na qual os movimentos do toque tomam sua forma baseados nos movimentos universais, como o levantar das ondas e os círculos que os astros percorrem. A Massagem Rítmica foi desenvolvida conforme os pressupostos da Medicina Antroposófica e utilizada nesta pesquisa como inspiração para criação do gestual.

Pesquisa

Nossa pesquisa integrou diversas áreas do conhecimento (antroposofia, psicanálise, psicologia positiva, linguística e estatística) para validar a combinação da massagem e atividades lúdicas (gestual) entre avós e netos como promotora do aumento do bem-estar e o fortalecimento do vínculo, do diálogo e da relação entre eles. Utilizamos como metodologia a abordagem integral. Essa abordagem permite que a mesma pessoa seja vista e avaliada em diferentes aspectos emocional, comportamental, cultural e social.

Resultados

Os resultados foram surpreendentes e demonstraram que o gestual (massagem + álbum interativo) contribuiu para uma melhora na afetividade dos netos. A redução do domínio do self comparado indica que os netos passaram a se comparar menos com seus amigos, sugerindo também um aumento na autoestima. Além disso, o gestual permitiu aproximar-se dos avós, percebê-los mais claramente e valorizá-los. Nossos resultados indicaram que a combinação de toque e atividades lúdicas aumentou a interação social entre avós e netos. De fato, nas entrevistas, os netos reportaram ter diminuído o tempo dedicado a atividades autocentradas, tais como assistir televisão, jogar videogame e usar computador, em favor de vivenciar com os avós as atividades interativas propostas pelo álbum.

As atividades propostas no álbum estabelecem uma nova forma de diálogo: os netos passam, a saber, coisas de seus avós que eles sequer imaginavam. Para os avós, o gestual promoveu maior consciência sobre o momento presente, sobre o seu corpo e o mundo exterior, e proporcionou a redescoberta do prazer de ser cuidado. Ser cuidado pelos netos parece ter tocado os avós, não apenas fisicamente, mas emocionalmente. O álbum consiste em um ambiente lúdico importantíssimo, pois remete o avô e a criança para o mesmo plano, apesar de existir um grande abismo geracional. Para o avô, permite resgatar o brincar, o lúdico, desperta a curiosidade da criança no sentido de conhecer um pouco mais sobre seu avô e, através dele, vislumbrar o ontem, o hoje e o depois.

Apesar de haver estudos prévios reportando o papel do toque para o desenvolvimento do vínculo entre mães e bebês, e dos jogos e brincadeiras para promover interações sociais entre crianças, esta pesquisa consiste no primeiro estudo científico a mostrar que a combinação da massagem e atividades lúdicas tem potencial para reduzir a distância geracional entre avós e netos.

O estudo aqui relatado foi desenvolvido pelos pesquisadores da Natura: Cláudia Pellegrino, Ph.D;, Patricia Tobo, Ph.D. e Helder Kamei, M.Sc., integrados com uma redes de consultores externos formada por Helena Britto, Ph.D., Marieta Marques, Ph.D., Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva, Ph.D., Maria Adelina Rennó, Ph.D. e Márcia Marques Pereira.

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Para saber mais sobre a pesquisa em gestuais

BURKHARD, G. Tomar a vida nas próprias mãos. 1.ed. Antroposófica, 2000;

BURKHARD, G. Bases antroposóficas da metodologia biográfica: a biografia diurna.  Editora Antroposófica, 2002;

HAUSCHKA, M. Massagem Rítmica segundo Ita Wegman: Fundamentos Antropológicos. 3.ed. Antroposófica, 2007;

KEEGAN L. Therapies to reduce stress and anxiety. Critical Care Nursing Clinics of North America, 15:321-327, 2003;

MONTAGU, ASHLEY. Tocar: significado humano da pele. 9.ed. Summus, 1988;

MORAES, W. A. Medicina antroposófica: um paradigma para o século XXI. 2.ed. Associação Brasileira de Medicina Antroposófica, 2007.