Bem-estar e Ciência das Relações

Carolina Lavini Ramos

Longevidade, muita idade, longa duração de vida. ...

É possível promover a longevidade?

Longevidade, muita idade, longa duração de vida. Todas essas são palavras têm sido muito pronunciadas nas últimas décadas. E é fato que a esperança de vida vem aumentando, quando olhamos 30 anos atrás: em média o ser humano vivia 62 anos em 1980 comparados aos74 anos em 2011, segundo dados do censo demográfico do IBGE.

O envelhecimento é um processo natural, porém complexo, associado à perda das funções fisiológicas. Porém a preocupação com os sinais do envelhecimento tem contribuído para uma terceira idade mais saudável.

Atualmente, aqueles que acabaram de entrar na faixa dos idosos são muito mais ativos do que o eram nos anos 80. Talvez nem possamos chamá-los de idosos - a grande maioria preocupa-se não apenas em minimizar os sinais da idade, mas também em manter seu corpo e mente em constante atividade, inclusive acompanhando o rápido avanço da tecnologia, o que os rejuvenesce dia-a-dia.
Mas existem estudos que mostram ser possível atuar na longevidade, modulando alguns processos metabólicos. A restrição calórica (RC) é uma intervenção possível; é uma redução do nível de calorias ingeridas que pode atuar na redução da gordura corporal e sinalização da insulina, na redução da produção de espécie reativa de oxigênio e atenuação dos danos oxidativos. Os mecanismos, assim como os efeitos, especialmente em seres humanos, ainda não são bem conhecidos.

Por isso os pesquisadores trabalham com hipóteses, uma vez que a RC atua na redução de processos geralmente relacionados ao envelhecimento celular, como danos oxidativos, processos inflamatórios e neurodegenerativos, além de ser benéfica para o sistema cardiovascular e metabolismo de lipídios (Genaro,OS, et al, 2009).
As células tronco também perdem sua atividade com o avanço da idade. Assim, a restrição calórica teve um efeito benéfico, mantendo a funcionalidade de células tronco hematopoiéticas de camundongos.

O mesmo resultado pode ser observado em uma população específica de células tronco, as de tecido muscular de camundongos, chamadas de células satélites, que ficam adjacentes às miofibrilas. No estudo realizado por Cerletti e colaboradores em 2012, o aumento observado da freqüência e função das células satélites de animais tratados com RC pode ser promissora para melhorar, futuramente, a eficácia de tratamentos no contexto de doenças ou disfunções musculares e até mesmo para a degeneração causada pelo envelhecimento.

Como mecanismos, o grupo propõe que esteja ocorrendo uma reprogramação metabólica que favorece o metabolismo oxidativo devido a mudanças que ocorrem nos reguladores da atividade da mitocôndria, como na proteína sirtuína (SRT1).
Esse eixo, sirtuína, restrição calórica e longevidade tem sido bastante estudado, incluindo outras substâncias que possam favorecê-lo, como o resveratrol. Tem sido proposto que o resveratrol, um polifenol presente em plantas, possua uma atividade antioxidante promovendo uma proteção do sistema nervoso ao estresse oxidativo.
Assim, Rascón e colaboradores, demonstraram que abelhas tratadas com resveratrol tiveram um aumento em sua expectativa de vida e uma diminuição da predileção por sucrose.

Como comentei acima, os mecanismos ainda são pouco conhecidos, e os resultados às vezes controversos, uma vez que pesquisadores utilizam modelos diferentes para seus estudos (abelhas, camundongos, humanos, etc). Além disso, em muitas circunstâncias é difícil distinguir os efeitos de uma alimentação balanceada e saudável daqueles provindos de uma RC.
Bem, neste momento nos resta acompanhar os avanços científicos que sempre incrementam nossa rede de conhecimentos.

 

Referências Bibliográficas

Cerletti M, Jang YC, Finley LW, Haigis MC, Wagers AJ. Short-term calorie restriction enhances skeletal muscle stem cell function. Cell Stem Cell. 2012 May 4;10(5):515-9. doi: 10.1016/j.stem.2012.04.002.
Patrícia de Souza Genaro, Karin Sedó Sarkis1, Ligia Araújo Martini. O efeito da restrição calórica na longevidade. Arq Bras Endocrinol Metab. 2009;53/5: 667-672.
Rascón B, Hubbard BP, Sinclair DA, Amdam GV. The lifespan extension effects of resveratrol are conserved in the honey bee and may be driven by a mechanism related to caloric restriction. Aging (Albany NY). 2012 Jul;4(7):499-508.
Site: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=2271&id_pagina=1