Sustentabilidade

Time Natura Campus

imagem fernando maior

O Prêmio Capes/Natura Campus teve sua primeira edição finalizada em 2016.

Resíduo da cana substitui areia em artigo vencedor

A busca por alternativas sustentáveis para a construção civil ganhou o primeiro lugar em uma das categorias do Prêmio Capes/ Natura Campus de Excelência em Pesquisa. O artigo [1] assinado pelo pesquisador Fernando do Couto Rosa Almeida propõe a utilização da areia de cinza do bagaço de cana-de-açúcar como substituição para a areia natural aplicada no concreto, argamassa e outros materiais a base de cimento utilizados em construção.
 
A pesquisa, desenvolvida na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), junto ao Grupo de Estudos em Sustentabilidade e Ecoeficiência em Construção Civil e Urbana (GESEC) sob orientação do Prof Almir Sales, trabalhou com resíduos oriundos do bagaço da cana de uma usina instalada na cidade de Jaú, interior de São Paulo, para confirmar essa nova possibilidade de aplicação. "Existem estudos que propõem a utilização da cinza do bagaço da cana como substituto do cimento, mas para isso é necessário tratamento térmico e outros processos que acabam encarecendo o produto. A gente quis propor essa alternativa à areia por, além de ser sustentável, também ser mais barato, visando facilitar a aplicação no mercado", explica Fernando.
 
O estudo foi ganhador na categoria "Sustentabilidade: novos materiais e tecnologias" do Prêmio Capes/Natura Campus, que teve sua primeira edição finalizada em 2016. A outra categoria do prêmio, intitulada "Sociobiodiversidade e Conservação Biológica", teve como ganhador o pesquisador Diogo Soares Menezes Samia. Os vencedores embolsaram o valor de R$ 25 mil cada.
 
Atualmente cursando doutorado na Glasgow Caledonian University, na Escócia, Fernando Almeida explicou, em entrevista ao Natura Campus, os objetivos de sua pesquisa. “O Brasil é o maior produtor mundial da cana e derivados, em especial o estado de São Paulo, que concentra mais da metade dessa produção. Nosso trabalho foi realizado com o resíduo que é gerado durante o processo de queima do bagaço da cana para produção de energia. Hoje, a cinza gerada nesse processo não tem aplicação e é jogada na lavoura. Com essa pesquisa, propomos uma alternativa mais sustentável e responsável para aplicação dessa areia de cinza”, destaca Fernando.
 
Apesar de ser um recurso natural, a coleta da areia normalmente utilizada na construção também pode causar danos ao meio ambiente, como no caso do assoreamento dos rios provocado pela ação humana. “A utilização da areia de cinza também ajudaria na redução desse tipo de problema”, afirma o pesquisador.
 
Ele ressalta que a evolução do estudo só foi possível graças ao esforço em rede que envolveu empresas, laboratórios e pesquisadores. Além de Fernando, o artigo é assinado por Almir Sales, Juliana P. Moretti e Paulo C.D. Mendes. A Cosan, empresa que administra usinas de cana-de-açúcar , auxiliou os pesquisadores no fornecimento dos resíduos usados na pesquisa. “Os componentes do resíduo variam de acordo com a usina, depende muito de como é feito o manejo. Estudos de quase 10 anos do Grupo de Pesquisa vem indicando a melhor prática de utilização dessa areia de cinza”., ressalta Fernando. No paralelo, o Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica (Liec) da UFSCar e o Grupo de Materiais Eletroquímicos e Métodos Eletroanalíticosda USP de São Carlos contribuíram para estudos mais aprofundados sobre as propriedades dos novos materiais. Os pesquisadores também contaram com o apoio financeiro da CAPES e CNPq.  
 
Após esta etapa da pesquisa, outros estudos estão sendo realizados pelos integrantes do GESEC para evoluir na análise do comportamento desse material na interação com o aço e outros materiais habitualmente utilizados na construção civil. “É preciso analisar mais a fundo, gerar normas, técnicas e padrões desse material para que ele possa ser aplicado no mercado”, explica Fernando.
 
O pesquisador finaliza destacando a importância das parcerias para a evolução da pesquisa e inovação no país: “A parceria entre setor acadêmico, setor privado e setor público, tudo isso contribui para a realização de uma pesquisa de qualidade. Fiquei muito feliz com a presença entre os ganhadores desse prêmio, por meio de uma pesquisa que representa bem essa interação”. 
 
Saiba mais:
 
 
[1] Almeida, F. C., Sales, A., Moretti, J. P., & Mendes, P. C. (2015). Sugarcane bagasse ash sand (SBAS): Brazilian agroindustrial by-product for use in mortar. Construction and Building Materials, 82, 31-38.