Envelhecer pode parecer injusto para muitos, mas não precisaria ser. ...

Olhar para o futuro

Envelhecer pode parecer injusto para muitos, mas não precisaria ser. Com a crescente queda da taxa de natalidade e o aumento da expectativa de vida da população, a preocupação com a qualidade de vida das pessoas com mais de 60 anos tornou-se essencial. (Para a OMS – Organização Mundial da Saúde – é considerado como idoso quem tem mais de 60 anos de idade.) Mas, como manter uma vida satisfatória e saudável, como fazer da terceira idade um período de vida feliz?

Entre os profissionais da saúde há um crescimento da demanda por técnicas e conhecimentos sobre o desenvolvimento humano nessa fase da vida. A busca por fatores para um envelhecimento bem sucedido, tanto físico como intelectual, tem trazido bons frutos, no campo da gerontologia e da psicologia do envelhecimento. Olhar para o papel social e para a independência do idoso, nesse processo, parece ser tão importante quanto cuidar das perdas físicas e do envelhecimento do corpo.

 

 

Pirâmide etária do Brasil e projeção para os próximos anos. Retirado de Campana, Opustil & Faro (2011).

O período de aposentadoria é um dos acontecimentos que pode afetar seriamente a vida das pessoas idosas. Apesar de soar como o “merecido descanso após tantos anos de contribuição para a sociedade”, o aumento da probabilidade de depressão nesse período indica que há mais coisas acontecendo na vida dessas pessoas do que apenas “descanso”. Quando uma pessoa se aposenta, toda a rotina e a estrutura social de sua vida tende a mudar. A perda de contato social com os colegas de trabalho, a sensação de “inutilidade” social, a falta de objetivos e a inadaptação aos valores e conceitos modernos são fatores de risco para a perda da identidade social e da independência durante a velhice, contribuindo para um quadro de depressão e estresse.

Para Skinner & Vaughan (1985), tornar-se idoso é “como ir morar em outro país.” É preciso que, durante a maturidade, o indivíduo prepare-se para a mudança, tenha hábitos de vida saudável, mantenha a capacidade cognitiva e, acima de tudo, conheça a “terra estrangeira” para onde irá no futuro. Manter-se atualizado com as notícias, a tecnologia e os conceitos modernos é um meio de manter a independência do idoso. Ter acesso à internet, aos novos meios de comunicação, às redes sociais, usar o caixa eletrônico do banco e conversar com pessoas de todas as idades é imprescindível para quem quer manter sua autonomia e sua participação na sociedade. Estar inserido em um grupo social, e fazer parte de uma rede de pessoas cujos interesses e valores sejam compatíveis tem um impacto muito positivo sobre a auto-estima e a autoconfiança do idoso e aumenta substancialmente a qualidade de vida.

Além da autonomia e da independência, outro fator que pode afetar o bem estar do idoso é a falta de aceitação da própria condição. O corpo envelhecido perde força muscular, os sentidos são afetados e a memória pode ser comprometida. Ao olhar-se no espelho, as rugas e as expressões da idade são o retrato da passagem do tempo, e o idoso pode não aceitar esse realidade. É preciso que, durante esse período, o envelhecimento do corpo seja percebido positivamente como uma condição natural, uma parte do processo de desenvolvimento do ser humano. Rejeitar a velhice, tentar a todo custo parecer jovem e sucumbir ao culto à juventude levam o idoso, muitas vezes, a um quadro de baixa auto-estima e depressão. Por isso, é importante que haja espaço para a beleza e a contemplação desse estágio da vida. O idoso deve ser valorizado como é, e a indústria da beleza parece ainda não ter percebido esse nicho.

Ainda há um imenso campo inexplorado sobre os aspectos específicos e os fatores para o bem estar no terceiro estágio do desenvolvimento humano. A área está aberta aos pesquisadores e há, recentemente, a introdução da gerontologia como novo campo do conhecimento, com cursos de graduação e especializações disponíveis. Olhar para o futuro é, nesse caso, sabermos como a vida segue seu curso e, mais ainda, como fazer dessa uma viagem feliz e bem sucedida.

 

Referências:

Skinner, B.F.; & Vaughan, M.E. (1985). Viva bem a velhice: Aprendendo a programar sua vida. São Paulo: Editora Summus.

Campana, G.A.; Oplustil, C.P.; & Faro, L.B. (2011). Tendências em medicina laboratorial. J. Bras. Patol. Med. Lab., 47(4). Em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1676-24442011000400003&script=sci_arttext

 

Indicações de leitura:

Batini, E.; Maciel, E.M.; & Finato, M.S.S. (2006). Identificação de variáveis que afetam o envelhecimento: análise comportamental de um caso clínico. Estudos de Psicologia: Campinas, 23(4). 455-462. Em: http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v23n4/v23n4a13.pdf

Teixeira, I.N.A.O, & Neri, A.L. (2008). Envelhecimento bem-sucedido: uma meta no curso da vida. Psicologia USP, 19(1). Em: http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-51772008000100010&lng=en&nrm=is