A maternidade é um dos maiores símbolos da feminilidade...

Nos bastidores do período pós-gestacional

A maternidade é um dos maiores símbolos da feminilidade. Podemos afirmar que a maioria das mulheres sonha em ser mãe. A figura da gestante acariciando sua barriga, ou mesmo da mulher sorrindo e amamentando prazerosamente seu bebê, são imagens que naturalmente se projetam em nossa mente quando tratamos deste tema. Na vida real, porém, nem tudo ocorre tão tranquilamente. Estudos apontam que uma em cada quatro mulheres que se tornam mães pela primeira vez apresentam algum tipo de desordem psicológica relacionada ao período pós-parto. A maioria das pesquisas foca a depressão, cuja incidência é de 10 a 15%, porém há evidências crescentes de que os transtornos de ansiedade (incluindo pânico, transtorno obsessivo compulsivo e estresse pós-traumático) afligem de 3 a 43% das mulheres neste período (1). É evidente que um dos maiores sentimentos vivenciado pela mãe ao ter seu bebê nos braços é o amor. Um amor incondicional, inexplicável, que só compreende quem já passou pela experiência. Porém, não há como negar que nos primeiros dias, ou mesmo meses, que se seguem após o nascimento do bebê, uma avalanche de medos, inseguranças e dificuldades atrapalham a relação prazerosa da mãe com o filho e demais pessoas do convívio. A amamentação é uma das primeiras dificuldades encontradas. A maioria das mulheres sofre dores nas mamas, rachaduras no bico, empedramento e/ou vazamento de leite, insegurança quando à produção suficiente, dificuldade em estabelecer rotinas de mamadas, dentre outras. O ato de amamentar, apesar de conferir prazer e satisfação à mãe, está longe de ser plenamente calmo e tranquilo como apresentado nas fotos. No Brasil, embora 92% das mulheres inicie o aleitamento materno exclusivo, mais da metade das crianças já não está em amamentação exclusiva no primeiro mês de vida, o que pode estar relacionado à falta de apoio e orientação profissional (2). A cólica do bebê, que afeta cerca de 10% dos recém-nascidos, é outro fator difícil de lidar. Uma pesquisa realizada com mães e pais de bebês que sofrem de cólicas (aqueles que choram por três ou mais horas seguidas diárias pela dor) mostra que os mesmos relatam um cansaço e preocupação extremos, além do sentimento de impotência perante o sofrimento do filho (3). Outra questão importante é a autoestima da mulher no período pós-parto, que tende a diminuir. Durante a gravidez as gestantes recebem diversas recomendações sobre alimentação regular, uso de cosméticos específicos e dicas de rituais de cuidados com o corpo. Assim que o bebê nasce, todas as recomendações se voltam para o bebê e a mãe esquece-se de si mesma, muitas vezes nem usa hidratantes com medo da fragrância ser prejudicial ao bebê. Estes temas são comuns nos fóruns das redes sociais de grupos voltados para as mães, por exemplo o grupo 4 Mom´s, do Facebook, que atrai 5.286 membros até o momento (www.4moms.com.br). Uma pesquisa publicada recentemente (4) sobre a visão e expectativas de mulheres no período pós-parto mostrou que o apoio dos parceiros e familiares é fundamental para o bem-estar físico e emocional da mamãe e do bebê. Interessante destacar que as mulheres esperam receber espontaneamente este apoio, ou seja, sem precisar solicitá-lo. Fica então a dica de apoio tanto para nós que temos parentes, amigas e conhecidas que acabaram de ganhar seu bebê, como para as empresas que vendem produtos e serviços atrelados ao bem-estar. Como podemos contribuir com as mulheres neste período sublime e ajudá-las a desfrutar com prazer e alegria cada minuto desta fase que, apesar de um pouco difícil, marca o descobrimento do verdadeiro amor e felicidade? Referências: (1) Moore D, Ayers S. A review of postnatal mental health websites: help for healthcare professionals and patients. Arch Womens Ment Health. 2011 Dec;14(6):443-52; (2) Venâncio, S.I. Dificuldades para o estabelecimento da amamentação:o papel das práticas assistenciais das maternidade. Jornal de Pediatria - Vol. 79, Nº1, 2003; (3) Landgren K, Hallström I. Parents' experience of living with a baby with infantile colic--a phenomenological hermeneutic study. Scand J Caring Sci. 2011 Jun; 25(2):317-24;(4) Negron R, Martin A, Almog M, Balbierz A, Howell EA. (4) Social Support During the Postpartum Period: Mothers' Views on Needs, Expectations, and Mobilization of Support. Matern Child Health J. 2012; May 12