Para promover a aplicabilidade de pesquisas básicas em psicologia e ciências do comportamento, é importante usar a criatividade no pensar as novas pesquisas em neuropsicologia. O meio acadêmico brasileiro está progredindo, porém ainda tem muito de sua produção científica voltada mais para a pesquisa básica do que para a aplicada. Basta ver o quão baixa é a taxa de novas patentes concedidas por universidades no país.
Esta não é apenas uma questão de falta de políticas públicas voltadas para a promoção de pesquisas que vão originar conhecimentos, idéias e produtos relevantes para a industria e o mercado – o famoso culpar o sistema. Mas sim temos que ser capazes, nós mesmo, de enxergar além das fronteiras cotidianas da nossa própria área de pesquisa. Tradicionalmente a Psicologia possui vertentes de aplicação mais proeminentes na terapia e aconselhamento e em recursos humanos. Pouco se tem dedicado em aplicar os conhecimentos de como nossa mente e cérebro funcionam em outras áreas.
A criatividade artística é famosa por dotar as pessoas da capacidade de vislumbrar coisas inimaginadas. Entretanto é ainda muito influente a noção de que o produto artístico não tem função alguma, além de ser apenas obra de arte. É a noção da ‘arte pela arte’.
Da mesma forma, ao responderem a questões sobre a serventia das pesquisas em neurociência, os pesquisadores dizem que trata-se apenas de pesquisa básica, que um dia no futuro distante poderá trazer alguma relevância prática. É a resposta clássica da ‘ciência pela ciência’. Veja bem, não estou advogando para o fim da pesquisa básica, que é de extrema importância téorica. Mas estou apenas mostrando que ambas podem ocorrer ao mesmo tempo se começarmos a imaginar criativamente possíveis aplicações para o que já estamos pesquisando.
Um artigo recente de revisão publicado na revista científica NeuroImage sobre a neurociência da beleza analisou todas as áreas cerebrais relacionadas ao julgamento estético proveniente de diferentes modalisades sensoriais [pdf]. Eles estudaram 93 pesquisas em neuroimagem sobre respostas estéticas positivas vindas da visão, audição, gustação e cheiro. Para o autor Steven Brown, professor da Universidade McMaster no Canadá, e seus colaboradores "estudos em neuroimagem tem mostrado de maneira convincente que não existe evidência alguma de que obras de arte ativem áreas distintas daquelas já envolvidas na apreciação de objetos do dia-a-dia, importantes para a sobrevivência e reprodução, como na suculência da comida e na atratividade dos parceiros amorosos" diz Brown.
Por Marco Varella, biólogo, mestre e doutor em psicologia experimental e divulgador de ciência.