O método da inovação em design tem sido sempre ensinado pelo paradigma da necessidade sendo mãe da invenção ...

A necessidade é a mãe da invenção?

Esta resposta pode não ser tão óbvia, pelo menos no que toca a pesquisa em design. Em 2009 um texto gerou uma grande comoção entre os designers por dizer justamente que a pesquisa em design é interessante e importante, mas apenas para desenvolver e melhorar produtos já existentes. Os verdadeiros responsáveis pelas invenções revolucionárias na sociedade seriam a ciência e a tecnologia.

O método da inovação em design tem sido sempre ensinado pelo paradigma da necessidade sendo mãe da invenção: a inovação partiria primeiro de uma pesquisa etnográfica de campo para descobrir com as próprias pessoas em suas comunidades, shoppings ou supermercados, suas necessidades ainda escondidas e inconscientes. A partir destas necessidades o designer desenvolveria suas ideias para suprir este desejo. Isto seria inovação em design.

Acontece que para algumas pessoas a coisa não é bem assim. E não faria muita diferença essa discordância se o crítico não fosse o papa do design emocional. Don Norman, autor de livros como “O Design do Dia-a-dia” e “Design Emocional”, em um artigo intitulado Technology first, needs last inverte totalmente a maternidade da invenção mostrando que, primeiro, surge a inovação tecnológica, a qual depois de algum tempo vai ser aplicada e disponibilizada. A pesquisa em design só entraria em cena para desenvolver estas ideias, mas a real inovação teria origem em laboratórios (tecnologia), e não em pesquisas etnográficas (necessidades).

Ele argumenta que todas as grandes revoluções partiram de inovações que não tiveram nenhuma influência de pesquisas em design, como o avião, o computador, o automóvel, etc.

Claro que quem faz pesquisa em design ficou bem abalado com a opinião de Don Norman e entrou na conversa. Um deles, Bruce Nussbaum, critica esta visão “de cima para baixo” dizendo que é um método antigo de inovação e argumenta que a real inovação não está na invenção (ferramenta, produto ou experiência em questão), mas sim na sua apresentação e aplicação na sociedade, caso contrário a invenção ficaria para sempre na prateleira do laboratório. E são os designers estes interlocutores entre laboratório e sociedade.

Diz ainda, que hoje existem novas formas de inovar graças a novas ferramentas e métodos em pesquisa etnográfica, que são mais horizontais, dinâmicas e open source, permitindo maior comunicação das pessoas com os tecnólogos e, até mesmo, a participação destas pessoas no desenvolvimento de uma invenção que elas poderão vir a usar.

 

 

 

Imagem (por George Simonyan) : Nunca foi feita pesquisa etnográfica para saber se as pessoas queriam que o avião fosse desenvolvido.

Esta polêmica não se encerrará tão cedo, afinal alguns dos argumentos de ambos os lados parecem não fechar uma tese forte. Para Don Norman o avião não precisou de pesquisa etnográfica para ser inventado, mas alguém tem alguma dúvida de que o mundo todo precisava e já ansiava por esta invenção? Na verdade o que houve foi uma corrida para a invenção do avião. Tanto é que a autoria do feito mantém uma polêmica histórica até hoje (Santos Dumond ou irmãos Wright).

Do outro lado, estas novas ferramentas que permitem maior participação das pessoas no processo criativo, como na criação de aplicativos para celulares, por exemplo, tiveram sua origem na tecnologia dos celulares, redes sem fio, internet, telas sensíveis ao toque e por aí vai.

Um caminho do meio possível dependeria de assumir que o processo de inovação em design era realmente como Don Norman descreve, mas que agora está mudando rapidamente para o que Nussbaum mostra, e talvez o caminho seja a complementaridade e a interdependência entre o laboratório e a pesquisa de campo.

Na verdade o que esta polêmica evidencia é que mais pesquisa é necessária, e não só voltada para o desenvolvimento de produtos, mas em como se desenvolve, nos bastidores, a própria pesquisa em design.

 

Referências e leituras sugeridas:

http://jnd.org/dn.mss/technology_first_needs_last.html

http://www.businessweek.com/innovate/NussbaumOnDesign/archives/2009/12/technology_vs_c.html