Bem-estar e Ciência das Relações

Carolina Lavini Ramos

No inverno deste ano, a seca foi intensa ...

Sinais da poluição

No inverno deste ano, a seca foi intensa, deixando grande parte do país com quase 60 dias sem chuva chegando até 90 dias em alguns estados. Essa estiagem contribui para um elevado número de queimadas além de baixar a umidade relativa de alguns centros a proporções similares ao clima de deserto.

Juntamente com as altas temperaturas durante o dia, as partículas de poeira se acumulam na atmosfera formando aquela camada cinza clássica no horizonte dos grandes centros industrializados.

O resultado em nosso corpo é um aumento de ardor nos olhos, irritação na garganta, mais casos de rinite, asma, infarto do miocárdio e até mesmo, a longo prazo, o envelhecimento da pele.

Isso mesmo, Viekörtter e colaboradores estudaram a influência de partículas de poluição sobre a formação de manchas e o envelhecimento da pele.  Portanto se você mora próximo a rodovias movimentadas, ou em um centro urbano, fique atento, pois, sua pele, no futuro, pode revelar sinais da sua história.

 

 

 

Congestionamento no Vale do Anhagabaú, por Henrique Boney (wikemedia)

Já foi apresentado aqui em nosso blog que o processo de envelhecimento é resultante da combinação de causas intrínsecas e extrínsecas. Estas apresentam sintomas clínicos específicos como rugas profundas, manchas de pigmentação irregular e elastose. Dentre as causas extrínsecas já comentamos anteriormente um pouco sobre a importância da alimentação e da radiação solar; mas, recentemente, tem sido também discutida a importância de outros fatores ambientais como a fumaça do cigarro e partículas atmosféricas (PA).

Os mecanismos de ação dessas partículas sob a pele ainda não estão completamente elucidados e são foco de discussões científicas. Os autores citam estudos prévios no quais nanopartículas provenientes basicamente do tráfego intenso são considerados os componentes mais prejudiciais da PA. Tem sido mencionado que essas partículas podem carregar compostos orgânicos e químicos e penetrar, através dos folículos pilosos do cabelo, atuando nas mitocôndrias celulares permitindo a geração espécies reativas de oxigênio.

Assim os autores realizaram um estudo epidemiológico com 400 mulheres caucasianas, com idade entre 70 e 80 anos de uma área urbana e outra rural alemã. Avaliaram a relação entre sinais de envelhecimento, como as manchas na pele, rugas profundas, elastose solar e teleangectasia com a longa exposição aos poluentes atmosféricos, utilizando um score chamado SCINEXA (do inglês, score of intrinsic and extrinsec skin aging). Foram também computados alguns fatores que poderiam influenciar nos resultados como tipo de pele, idade, índice de massa corpórea, reposição hormonal, fumo, dentre outros.

A principal conclusão foi que PA relacionadas ao tráfego intenso representam um fator ambiental que contribui de uma forma importante como agente extrínseco do envelhecimento da pele. Para tanto se basearam nas informações que o aumento da concentração dessas partículas, provenientes também da fuligem, foi associando com uma maior formação de manchas no rosto e no sulco nasolabial, apesar de ainda não se saber ao certo a patogênese das manchas.

Resultados parciais também foram apresentados mostrando distintas associações já discutidas na literatura como do uso de reposição hormonal assim como da pele mais clara com o menor desenvolvimento de rugas, ao contrário do fumo que foi associando com mais rugas, elastose e teleangectasia pronunciada.

De toda forma fica aqui a dica: vamos acompanhar os avanços das pesquisas científicas que esclareçam muitas das nebulosas ações do meio sobre nosso corpo, para encontrarmos formas de nos prevenir e proteger.

 

Referência Bibliográfica consultada e sugerida

Vierkötter A, Schikowski T, Ranft U, Sugiri D, Matsui M, Krämer U, Krutmann J. Airborne particle exposure and extrinsic skin aging. J. Invest Dermatol. 2010 Dec;130(12):2719-26. Epub 2010 Jul 22.

Gunn DA, Rexbye H, Griffiths CE, Murray PG, Fereday A, Catt SD, Tomlin CC, Strongitharm BH, Perrett DI, Catt M, Mayes AE, Messenger AG, Green MR, van der Ouderaa F, Vaupel JW, Christensen K. Why some women look young for their age. PLoS One. 2009 Dec 1;4(12):e8021.

Guinot C, Malvy DJ, Ambroisine L, Latreille J, Mauger E, Tenenhaus M, Morizot F, Lopez S, Le Fur I, Tschachler E. Relative contribution of intrinsic vs extrinsic factors to skin aging as determined by a validated skin age score. Arch Dermatol. 2002 Nov;138(11):1454-60.