Inovação em Produtos Cosméticos

Maria Cristina Valzachi

As experiências definem a forma como enxergamos o mundo ...

Sentidos, design e experiências

As experiências definem a forma como enxergamos o mundo, e cada uma das pequenas situações com as quais nos defrontamos diariamente contribui para formar nossa compreensão sobre aquilo que nos rodeia e determinar nosso comportamento. Um gosto bom pode representar simplesmente um paladar agradável, mas se a ele estiverem vinculadas memórias afetivas, como uma receita de família ou como uma viagem inesquecível, esse gosto passa a representar muito mais do que meramente o paladar. Dessa forma, cada pessoa tem um entendimento subjetivo acerca das experiências que vivencia, o que a torna única e capaz de sentir e interpretar os estímulos ambientais a sua própria maneira.

Essa compreensão particular das coisas faz com que o valor atribuído a um objeto deixe de ser determinado exclusivamente pelo aspecto material e passe a depender de sua capacidade de despertar sensações positivas. Por exemplo, receber um presente simples, mas de grande carga afetiva, gera sensações positivas e faz com que algo aparentemente sem importância torne-se insubstituível. No entanto, se cada indivíduo interpreta o mundo segundo experiências particulares, o que faz com que determinados objetos sejam valorizados e apreciados por um número considerável de pessoas em detrimento de outros similares?

Para entendermos essa questão, é preciso levar em consideração que a forma mais direta de comunicação de uma empresa com o consumidor é através de seu produto final. Quando adquirimos algo, queremos receber de volta o investimento que fizemos, trocando nosso trabalho por algo de igual importância, e quando o objeto adquirido tem qualidade e atende às nossas necessidades, obtemos o retorno que esperávamos e sentimos satisfação. Paralelamente, a vinculação de um produto a iniciativas socioambientais, também promove sua valorização; isto é, se comprarmos algo de uma empresa que realiza projetos de preservação do meio-ambiente ou de incentivo ao desenvolvimento da sociedade, sabemos que indiretamente estamos contribuindo com essas ações.

Por fim, outra característica que tem ganhado cada vez mais força nessa comunicação com o consumidor é o design, não só pela estética, mas pelo conceito que traz. Todos os tipos de arte são feitos com o mesmo material, por exemplo, quadros são produzidos com tinta em tela, músicas com acordes, poemas com palavras, mas nos sentimos tocados somente diante daquele quadro, música ou poema que é realmente belo; e essa é a intenção do design: levar algo a mais às pessoas, ser uma experiência positiva.

Sendo assim, a satisfação gerada pelo conjunto dessas características (qualidade, iniciativas socioambientais e design) é a principal responsável por possibilitar que pessoas diferentes apreciem determinado objeto de maneira semelhante, apesar das particularidades de cada indivíduo. Vimos, então, que nossas experiências são responsáveis pela interpretação que damos àquilo que vivenciamos, e para entendermos melhor os mecanismos por trás desse efeito, em nosso próximo encontro vamos começar a conversar sobre uma das nossas mais fascinantes capacidades, o aprendizado, e veremos de que forma ele se relaciona com as nossas experiências.

 

Referências bibliográficas

Pessoa, L. How do emotion and motivation direct executive control? Trends in Cognitive Sciences. 2009; 13(4):160-6.

Kandel, ER. A experiência modifica as sinapses. In: Em busca da memória – o nascimento de uma nova ciência da mente (Kandel, ER). 2009; p. 211-231, Companhia das Letras.