Inovação em Produtos Cosméticos

Maria Cristina Valzachi

O que é o som? Se procurarmos sua definição nos livros de física ...

O sentido da música

O que é o som? Se procurarmos sua definição nos livros de física, veremos que se trata de uma onda mecânica. Quando falamos, há um deslocamento das partículas do ar, que se propagam na forma de ondas que podem ser decodificadas pelos nossos ouvidos. No entanto, sabemos muito bem a diferença entre ouvir um barulho qualquer e uma melodia que gostamos.

Alegria, saudades e lembranças, não é fascinante o poder que a música tem de nos fazer transitar entre diferentes estados emocionais? De fato, estudos demonstram que quando ouvimos música, áreas cerebrais responsáveis pelas emoções, bem como o circuito mesolímbico-dopaminérgico (envolvido em recompensas naturais, como comida e sexo) são ativados, o que se reflete nos nossos sentimentos (Koelsch, 2010).

Um trabalho publicado no The Journal of Pain, em 2011, mostrou que a música ajuda a aliviar dores. O estudo avaliou cerca de 150 indivíduos, que eram solicitados a identificar determinadas variações de tom em uma música enquanto recebiam estímulos dolorosos. Os estímulos consistiam em uma descarga elétrica segura, porém incômoda, nas pontas dos dedos, em três intensidades diferentes: baixa, moderada e alta. Os resultados mostraram que o incômodo provocado pelo estímulo doloroso diminuía quando os participantes se concentravam na tarefa de identificação dos tons, mostrando que o envolvimento com a música pode proporcionar alívio para as dores. O estudo também mostrou que as pessoas mais ansiosas e que tinham maior capacidade de concentração obtinham as melhores respostas (menos dor), sugerindo que características individuais participam da modulação desse efeito.

Além da música, outros sons são capazes de interferir em nossos sentidos, foi o que concluiu o estudo publicado no Chemical Senses (2010) ao mostrar esse efeito sobre o olfato. No primeiro experimento, os participantes foram expostos aos sons de “comer batata frita” ou de “tomar café” e aos cheiros de batata frita ou de café. O áudio e o aroma eram apresentados de forma congruente (som e cheiro correspondentes) ou incongruente (som e cheiro não correspondentes). Ao final, os odores foram avaliados como mais prazerosos quando pareados com o som correspondente. No segundo experimento, os participantes ouviam sons agradáveis (um bebê rindo ou um som de jazz) ou desagradáveis (um bebê chorando ou gritos) antes e durante a apresentação de um odor agradável ou desagradável. Os resultados mostraram uma correlação entre o valor hedônico do som e a avaliação do cheiro subsequente, isto é, quanto mais os participantes apreciavam o som que ouviam, mais o odor subsequente era avaliado como agradável. Juntos, os dois experimentos demonstraram que a audição pode interferir no olfato.

A capacidade da música de influenciar nossa resposta à dor e a habilidade dos sons em alterar a forma como avaliamos os cheiros somente são possíveis graças à interação existente entre os sentidos. Muito do que percebemos por meio de determinada modalidade sensorial pode sofrer influência de outro sentido, dessa forma será que não conseguiríamos proporcionar experiências mais agradáveis durante o uso de produtos se soubermos estimular diferentes sentidos simultaneamente?

 

Referências

Bradshaw DH, Donaldson GW, Jacobson RC, Nakamura Y, Chapman CR. Individual differences in the effects of music engagement on responses to painful stimulation. J Pain. 2011;12(12):1262-73;

Koelsch S. Towards a neural basis of music-evoked emotions. Trends in Cognitive Sciences. 2010;14(3):131-137;

Seo HS, Hummel T. Auditory-olfactory integration: congruent or pleasant sounds amplify odor pleasantness. Chem Senses. 2011;36(3):301-9;

Figura: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Joueur_de_saxophone.jpg?uselang=pt-br