Sustentabilidade

Natalia Allenspach de Souza

A lista de novos e surpreendentes materiais que vêm sendo criados não para de crescer. ...

Mas... dá pra reciclar?

A lista de novos e surpreendentes materiais que vêm sendo criados não para de crescer. Todos os dias a mídia noticia um novo avanço: super-colas, tecidos anti-manchas, vidro dobrável, tintas inteligentes. É claro que todo mundo adora uma novidade, e muitas destas descobertas podem chegar a ter importantes aplicações. Mas, quando um novo material (mesmo que sem as características fantásticas dos exemplos citados acima) efetivamente chega ao mercado, surge a pergunta: será que, depois de usar, dá pra reciclar? 

Provavelmente uma boa equipe de pesquisadores, munida de um razoável investimento financeiro, poderia desenvolver um processo de reciclagem especialmente para o novo material. O problema é se este novo método seria viável do ponto de vista econômico e ambiental. Quais os custos envolvidos? É possível coletar e separar de forma eficaz este novo material após sua utilização? Em que quantidade? Resíduos tóxicos serão gerados durante a reciclagem? Quanta energia é necessária?

Devido a todos esses fatores, muitas vezes não compensa criar um processo de reciclagem exclusivo para um único material. Pelo contrário, uma boa alternativa é tentar utilizar uma cadeia de reciclagem já estruturada, o que inclui tanto o processo de reciclagem em si como as demais etapas necessárias, como a coleta seletiva e a separação e limpeza dos resíduos. Assim pode-se aproveitar o maquinário e o know-how das várias empresas que já operam neste setor. Além disso, quanto maior o leque de materiais pós-consumo que uma empresa de reciclagem consegue utilizar, maior a viabilidade do negócio, uma vez que existem flutuações na oferta de cada material.

Infelizmente, não é tão simples assim. Cada material apresenta propriedades únicas que influenciam o processo de reciclagem. Os plásticos, por exemplo, não podem ser reciclados todos juntos como se fossem uma coisa só. O resultado seria desastroso, já que cada polímero se comporta de maneira diferente. A categoria dos termoplásticos é facilmente reciclável uma vez que eles são moldáveis quando aquecidos, podendo inclusive passar pelo processo várias vezes sem grandes perdas de qualidade. Mas esta propriedade não vale para os chamados plásticos termofixos, para os quais ainda não existe um processo adequado de reciclagem. Por essas razões, nem sempre é fácil adequar um novo material a uma cadeia de reciclagem já existente.

O jeito é se antecipar, ser estratégico e criar novos materiais que já atendam aos requisitos das cadeias de reciclagem existentes. Essa é uma das vertentes do “Ecodesign”, uma linha de pensamento mais amplo que procura reduzir todos os impactos ambientais de um produto (ou serviço), desde sua origem, fabricação e transporte, até sua destinação final. Atualmente esta é uma grande preocupação da maioria dos fabricantes, devido às mudanças na legislação e a pressão por parte dos consumidores, que buscam por produtos mais sustentáveis.

De fato, nos dias de hoje não basta um material ser potencialmente reciclável. Tão importante quanto isto é poder garantir sua coleta pós-consumo nos locais onde é comercializado, uma vez que este é o primeiro passo para sua efetiva inserção na cadeia de reciclagem. Este material também deve ser desenvolvido de forma que não contamine as cadeias de reciclagem já existentes, o que prejudicaria a qualidade dos produtos finais e reduziria o número de vezes em que eles poderiam voltar a ser reciclados. O material ideal deveria poder ser reciclado indefinidamente, sem perder suas características inicias. Ou seja, atualmente a criação de um novo material deve basear-se em um pensamento muito mais holístico, preocupando-se com todas as etapas do seu ciclo de vida.

 

Referências

AMARAL, G. et al (2011) Guia ambiental da indústria de transformação e reciclagem de materiais plásticos. São Paulo: CETESB: SINDIPLAST, 90p. Disponível em: http://www.cetesb.sp.gov.br/userfiles/guia_ambiental_internet.pdf

UNEP – United Nations Environmental Programme (2011) Global guidance principles for lifecycle assessment databases – a basis for greener process and products. Disponível em: http://www.unep.fr/shared/publications/pdf/DTIx1410xPA-GlobalGuidancePrinciplesforLCA.pdf