Inovação em Produtos Cosméticos

Maria Cristina Valzachi

Cocriando

As expressões faciais são um meio poderoso para o ser humano comunicar seus sentimentos. ...

Expressões faciais na comunicação das emoções

     As expressões faciais são um meio poderoso para o ser humano comunicar seus sentimentos. Entender seu significado nos permite reconhecer emoções fundamentais como alegria, medo ou raiva, o que é essencial para a convivência com outras pessoas. Um olhar arregalado pelo medo, por exemplo, pode ser um sinal para que nos afastemos de uma situação que envolva riscos reais; já uma cara feliz pode transmitir confiança e indicar que estamos no caminho certo. A interpretação correta dos sinais emitidos nos possibilita agir de forma adequada em diferentes situações.

     Muitos pesquisadores procuram descobrir como ocorre o reconhecimento facial e porque alguns indivíduos têm dificuldade em perceber esses sinais. Uma técnica usada para avaliar a capacidade das pessoas em compreender os sentimentos de outras por meio de suas expressões é o teste FEEL (Facially Expressed Emotion Labeling), que consiste na apresentação da foto de um rosto em uma tela de computador, seguida pela apresentação desse mesmo rosto mostrando uma das seis emoções consideradas básicas: alegria, tristeza, medo, raiva, nojo ou surpresa. Ao final, os participantes devem dizer qual sentimento foi expresso na imagem.

     Por meio de testes como esse, demonstrou-se que embora o reconhecimento das expressões ocorra de forma praticamente imediata, nem todos os sentimentos são percebidos com a mesma facilidade. Alegria, raiva e surpresa são entendidas de maneira correta na maioria das vezes, enquanto nojo, tristeza e medo causam alguma confusão. Além disso, embora a visualização completa do rosto possibilite uma percepção mais eficaz das expressões, algumas das emoções são detectadas quase exclusivamente na parte superior do rosto (olhos e nariz), como o medo; enquanto outras, como a alegria, tornam-se aparentes na parte inferior (boca e laterais da face).

     De fato, estudando o caso da paciente S.M., que apresentava grande dificuldade em reconhecer o medo no rosto das pessoas, devido a uma lesão na amígdala, o pesquisador Ralph Adolphs percebeu uma diferença importante entre a paciente e os indivíduos saudáveis no momento da aplicação dos testes, enquanto estes últimos se orientavam pela expressão do olhar da pessoa assustada, S.M. evitava fitar essa região no rosto avaliado, o que dificultava a interpretação da emoção que estava sendo expressa. Dirigir o foco da atenção para o lugar certo é um dos requisitos para um bom entendimento dos sinais emitidos.

     Além da aplicação clínica, a leitura das expressões faciais vem sendo cada vez mais usada como uma técnica para auxiliar na avaliação da satisfação/insatisfação dos consumidores durante a interação com produtos. Quantificar a experiência de uma pessoa com um produto somente por meio de questionários subjetivos nem sempre produz resultados confiáveis, pois nem todos se sentem confortáveis para revelar seus sentimentos reais. Desta forma, poder contar com um meio de avaliação mais natural é de grande valor. Um estudo recente (Danner et al., 2013) mostrou que existe correlação entre as avaliações subjetivas atribuídas pelos participantes a amostras de sucos de laranja e suas expressões faciais logo após o consumo, como veremos a seguir.

     Em um primeiro momento, no chamado experimento implícito, os consumidores provavam as amostras de suco e atribuíam uma pontuação que variava de 1 (gostei muito) a 9 (não gostei nem um pouco) e, sem saber que estavam sendo filmados, tinham suas expressões faciais analisadas por um software capaz de reconhecer as emoções básicas ou a neutra. O resultado mostrou correlação entre as faces “neutra”, “raiva” e “nojo” e a pontuação hedônica, no entanto a face “alegre” não foi bem discriminada. Em um segundo momento, os voluntários participaram do experimento explícito, no qual foram solicitados a classificar as amostras por meio de expressões faciais intencionais, e nesta nova situação houve uma forte correlação com as avaliações subjetivas, especialmente para as faces “alegre” e “nojo”. A leitura das expressões faciais pode, portanto, ser uma ferramenta eficaz para avaliar a interação de consumidores com produtos.

 

Maria Cristina Valzachi é farmacêutica-bioquímica formada pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e possui mestrado em Farmacologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP. Atualmente cursando o doutorado nesta mesma instituição, dedica-se a pesquisas e estudos nas áreas de Neuroquímica e Farmacologia comportamental, com ênfase na adolescência. Tem especial interesse por todos os campos relacionados à educação e divulgação de ideias.

Contato: cris.valzachi@gmail.com

 

Referências

Danner L, Sidorkina L, Joechl M, Duerrschmid K. Make a face! Implicit and explicit measurement of facial expressions elicited by orange juices using face reading technology. Food Quality and Preference. 2013. http://dx.doi.org/10.1016/j.foodqual.2013.01.004;

Traue HC. Mímica facial. Revista Mente e Cérebro. Coleção Como o Cérebro Interpreta o Mundo. São Paulo; Duetto Editorial. 2012; p.12-17;

Figura: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Mask_Shopping_(5477910485).jpg