Sustentabilidade

Natalia Allenspach de Souza

Imagine todas as etapas necessárias para que um produto - seja ele qual for - chegue até as mãos do consumidor ...

Ecodesign: pensando verde na criação dos produtos

      Imagine todas as etapas necessárias para que um produto - seja ele qual for - chegue até as mãos do consumidor. Em algum lugar matéria-prima é extraída ou cultivada. Então ela é transportada até a indústria, onde será transformada. O produto final é embalado e enviado para estabelecimentos comerciais, quando finalmente poderá ser comprado e levado para casa. Mais cedo ou mais tarde, dependendo da natureza do produto, ele ou o que resta dele vai para o lixo. Cada uma destas etapas implica em diferentes impactos sobre o meio ambiente, seja pelos resíduos gerados, pela energia consumida ou pela emissão de poluentes.

     Ao pensar em todo o ciclo de vida de um produto nos tornamos mais rigorosos. Antes, para ser “verde”, bastava focar em um único problema ambiental (reduzir, por exemplo, a água desperdiçada em uma fábrica). Hoje compreendemos a necessidade de reduzir todos os impactos causados ao longo da cadeia de produção, da origem da matéria-prima ao descarte final. É disto que trata o Ecodesign: a eterna busca por produtos e serviços que sejam mais “leves” para o meio ambiente.

     A causa é nobre, mas representa um desafio enorme para as equipes responsáveis pelo desenvolvimento de novos produtos, geralmente formadas por profissionais de várias áreas e parceiros externos, como fornecedores, designers, etc. As modificações não podem comprometer a atratividade do produto, que deve manter sua qualidade original, de preferência sem aumentar os custos envolvidos. Cada projeto pede por soluções específicas, que podem incluir pequenas alterações nos produtos existentes, ou o desenvolvimento de novas mercadorias que atendam melhor às expectativas ecológicas. Em alguns casos pode ser necessário dialogar com empresas de outros setores, já que um produto pode servir de matéria prima para outro. Garrafas pet, por exemplo, depois de descartadas podem ser reutilizadas pela indústria têxtil.

     A implementação de ferramentas de Ecodesign é tão importante que já existe uma série de regras a serem cumpridas. Em 2010, após mais de duas décadas de debate, a Política Nacional de Resíduos Sólidos foi finalmente aprovada no Brasil. Um de seus princípios norteadores é a logística reversa, que responsabiliza os geradores de resíduos e pretende enviar todo o descarte que pode ser reciclado de volta à cadeia produtiva. A família ISO 14.000, um reconhecido conjunto de normas técnicas voltadas para o gerenciamento ambiental, também foi atualizada. A ISO 14.006 – Diretrizes para a implementação do Ecodesign nos Sistemas de Gestão Ambiental – foi lançada em 2011.

     Mais do que meramente cumprir a legislação vigente, o Ecodesign possibilita uma nova relação entre o produto e seu consumidor, agora mais consciente e freqüentemente incomodado pelo “greenwashing” (ou “maquiagem verde”, publicidade com falso apelo ambiental). Se por um lado o consumismo desenfreado é insustentável, por outro lado as pessoas precisam de opções, de alternativas que causem menores impactos ao meio ambiente. É preciso investir em produtos mais limpos, mais eficientes, mais duradouros. Em breve o Ecodesign será uma preocupação da maioria das empresas, seja pelos argumentos ecológicos, seja por imposição do mercado.

 

Bibliografia consultada:

CASTRO, G. V. (2007) Ecodesign e consumo: cultura material e o significado do valor sócio-ambiental. Anais do 4º Congresso Internacional de Pesquisa em Design, Rio de Janeiro.

GUELERE FILHO, A.; BRONES, F.; COBRA, R. (2012) Customização de ferramentas de ecodesign: da teoria à aplicação na Natura. III Congresso Brasileiro de Gestão de Ciclo de Vida.

ISO - International Organization for Standardization (2011). New ISO standart to reduce environmental impacts od products and services. Disponível em: http://www.iso.org/iso/pressrelease.htm?refid=Ref1469

UNEP – United Nations Environmental Programme (2011) Global guidance principles for lifecycle assessment databases – a basis for greener process and products. Disponível em: http://www.unep.fr/shared/publications/pdf/DTIx1410xPA-GlobalGuidancePrinciplesforLCA.pdf

TRIGUEIRO, A. (2012) Mundo Sustentável 2: novos rumos para um planeta em crise. São Paulo: Editora Globo S.A., 399p.