Bem-estar e Ciência das Relações

Carolina Lavini Ramos

Quem nunca teve um resfriado após se expor a uma forte tempestade? ...

Desestresse o sistema imune

Quem nunca teve um resfriado após se expor a uma forte tempestade? Ou caiu de cama após aquela correria de entrega de tese, ou mesmo depois de meses preparando aquele tão esperado evento? Nos tempos atuais costumamos dizer que o culpado de tudo é o estresse, ou pelo menos é ele quem assombra a nossa rotina. Mas será que devemos sempre crucificá-lo dessa forma? Existe estresse positivo? Qual é o impacto desse sintoma do século XXI em nosso sistema imune e nossa rede de conexões neurais?

O estresse é conhecido por permitir a reposta de luta ou fuga, importante mecanismo de sobrevivência dos seres vivos. Em nosso organismo a resposta ao estresse desencadeia a liberação de neurotransmissores, hormônios, peptídeos e citocinas que agem em praticamente todas as células e tecidos através da circulação, informando a presença do estressor.

O estresse tem uma ação importante e direta no sistema imune, podendo até mesmo suprimir a resposta imune de uma pessoa aumentando sua suscetibilidade a infecções e até mesmo ao desenvolvimento de um câncer. Por outro lado, além de favorecer um quadro de imunossupressão, o stress pode também contribuir com uma resposta mais exacerbada de asma, alergias e doenças autoimunes inflamatórias. Assim, uma consequência benéfica ou maléfica desencadeada pelo estresse, depende do tipo de resposta imune que será estimulada [1].

Estudos mostram que diversos fatores são importantes para determinar o efeito protetor ou maléfico do estresse e de seus hormônios sobre o sistema imune, como a duração do estímulo, a intensidade e a distribuição dos leucócitos pelo organismo. O estresse agudo, com duração de minutos a horas, induz uma redistribuição dos leucócitos para a pele além de induzir a ativação da resposta inata e adaptativa que em conjunto poderão agir rapidamente contra uma infecção, por exemplo, além de induzir uma resposta mais eficiente a uma vacina. Ou, por outro lado, pode exacerbar uma reposta alérgica caso ocorra no meio de uma crise. Já o estresse crônico, aquele que pode persistir por dias e até meses, induz uma resposta completamente diferente: altera o balanço de citocinas de um padrão Th1 (pró-inflamatório) para um padrão Th2 (antiinflamatório), uma resposta imunorreguladora que pode contribuir para um controle de doenças autoimunes, mas por outro lado pode diminuir a resistência a infecções e ao câncer [1].

Imagino que algumas indagações podem ter surgido neste ponto da leitura, como: uma vez que vários caminhos podem ser tomados pelo nosso organismo em uma situação de estresse, será que eu posso “decidir” ou ajudá-lo a tomar o melhor caminho? A resposta é sim!

Entendendo como, o sistema imune, responsável pela defesa e controle diário da homeostase pode ser afetado por um estresse psicológico, podemos agora ajudá-lo a reagir da melhor forma possível nesta manutenção do equilíbrio.

Uma prática que todos sabemos que faz bem a saúde é a atividade física regular. Mas talvez poucos saibam que esse efeito é devido à sua atividade antiinflamatória. Vários mecanismos são de grande importância nesse contexto de grande necessidade de glicogênio como: aumento da liberação de cortisol e adrenalina pelas glândulas adrenais, aumento da citocina IL-6, que é tida como pró e anti-inflamatória, porém é capaz de induzir a síntese de fatores antiinflamatórios além da diminuição de monócitos pró inflamatórios circulantes. Isso nos mostra o importante papel da prática de exercício  físico que podemos incluir em nossa rotina de vida para mantermos a saúde de nosso organismo, até mesmo prevenindo doenças crônicas metabólicas e cardiorespiratórias [2].

Assim, uma vez que as reações entre sistema imune e sistema nervoso central estão diretamente integradas, para combater esse estresse, podemos investir em algumas atividades como, programas de interações sociais, atividade física, relaxamentos e yoga, dentre outras atividades que dêem sentido e valor a nossa vida. Elas certamente impactarão na saúde do seu sistema imune e consequentemente na sua saúde.

Portanto, desestresse seu sistema imune. Aceite, perdoe, sinta, aprecie, embeleze-se, exercite-se, sinta-se bem, interaja e viva!

 

Referências bibliográficas consultadas e sugeridas

[1] Dhabhar FS. Enhancing versus suppressive effects of stress on immune function: implications for immunoprotection and immunopathology. Neuroimmunomodulation. 2009;16(5):300-17. doi: 10.1159/000216188. Epub 2009 Jun 29.

[2] Gleeson M, Bishop NC, Stensel DJ, Lindley MR, Mastana SS, Nimmo MA. The anti-inflammatory effects of exercise: mechanisms and implications for the prevention and treatment of disease. Nat Rev Immunol. 2011 Aug 5;11(9):607-15. doi: 10.1038/nri3041.

McEwen BS. Brain on stress: how the social environment gets under the skin. Proc Natl Acad Sci U S A. 2012 Oct 16;109 Suppl 2:17180-5. doi: 10.1073/pnas.1121254109. Epub 2012 Oct 8.