Sustentabilidade

Maria Cristina Valzachi

Gigante pela própria natureza, és belo, és forte, impávido colosso ...

De olho na Amazônia

 “Gigante pela própria natureza, és belo, és forte, impávido colosso, e o teu futuro espelha essa grandeza...”

Esse pequeno trecho do Hino Nacional fala de uma das mais importantes características do Brasil, que o distingue dos demais países e pode mesmo ser chamada de riqueza nacional: a sua enorme biodiversidade. Quando Joaquim Osório Duque Estrada compôs a letra do Hino Nacional, ainda no início do século passado, ele certamente deve ter imaginado quantas possibilidades poderiam surgir dos recursos naturais do Brasil. O maior símbolo dessa riqueza é, sem dúvida, a Floresta Amazônica, a maior floresta tropical do mundo, que ocupa uma área de milhões de metros quadrados, dos quais 60% encontram-se em território brasileiro. Ela é tão rica, que apesar de cobrir somente 7% da superfície do planeta, contém mais de 50% das espécies da Terra.

Triste é saber da realidade do desmatamento que assola essa região, pois a verdade é que nem sempre o extrativismo vegetal ocorre da forma correta. Para combater o desmatamento da Amazônia, o Governo Federal conta com equipamentos modernos de monitoramento, como o sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER), que utiliza sensores com alta frequência de observação que fornecem aos órgãos de controle do desmatamento informações em tempo “quase real” sobre as áreas que estão sendo desmatadas [1]. Contudo, ainda é frequente vermos notícias sobre a apreensão de madeira ilegal na região.

A perda desses recursos naturais representaria um grande golpe para o país, começando pelas populações que dependem diretamente dos recursos da floresta e se estendendo para todo o povo brasileiro, que perderia a oportunidade de desfrutar dos benefícios oferecidos pela mata, já que cada vez mais a Amazônia desperta o interesse dos pesquisadores em identificar os potenciais oferecidos pela natureza [2]. É o caso do grupo coordenado pelo professor dr. Adrian Martin Pohlit, que trabalha no laboratório do Centro de Pesquisas de Produtos Naturais do Instituto de Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em Manaus, e desde 2001 procura descobrir propriedades antimaláricas em plantas da região amazônica [3]. Mas além da indústria farmacêutica, esse potencial natural também é aproveitado em diversos outros setores, como na indústria cosmética. É o que faz a Natura, que investe em pesquisas e projetos de utilização sustentável dos recursos da região em seus produtos. Todo produto ou negócio gerado de matérias-primas desenvolvidas a partir do patrimônio genético e/ou conhecimentos tradicionais associados presentes na região é repartido com as comunidades envolvidas em forma de benefícios, gerando oportunidades de negócios sustentáveis para toda a cadeia envolvida no desenvolvimento.

Além de valorizar a riqueza social e natural do país, a associação de produtos com o seu local de origem é uma forma de atribuir exclusividade e pode ser uma maneira de comunicar que ele possui qualidades especiais baseadas no conhecimento humano e nas características específicas de determinada região, dando identidade ao produto. De fato, um estudo mostrou que itens idênticos em todos os aspectos, exceto no local de origem, são avaliados de forma diferente pelos consumidores, e parece existir uma forte ligação entre o país de origem e a qualidade percebida [4]. A verdade é que precisamos investir no estudo e aproveitamento, de forma sustentável, dos recursos naturais do nosso país, afinal chegou a hora de descobrir o melhor que o Brasil tem a oferecer!

 

Referências

[1] Site: IBAMA. Projeto de Monitoramento do Desmatamento dos Biomas Brasileiros por Satélite – PMDBBS – Amazônia.

http://siscom.ibama.gov.br/monitorabiomas/amazonia/Amazonia.htm

[2] Shanley P, Medina G. Nutrição e Saúde: de graça na mata. In: Frutíferas e plantas úteis na vida amazônica. 2005;p.18;

[3] Site: Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e inovação – Ciência em pauta. Silva R. Pesquisadores buscam tratamento para malária em plantas amazônicas. Postado em 5-2-2013. http://www.cienciaempauta.am.gov.br/2013/02/grupo-de-pesquisadores-busca-tratamento-mais-eficaz-para-a-malaria/

[4] Verlegh PWJ, Steenkamp JBEM. A review and meta-analysis of country-of-origin research. Journal of Economic Psychology. 1999;20:521-546.