É comum ouvirmos depoimentos de pessoas que duvidavam dos benefícios da acupuntura ...

Conversando sobre a Medicina Tradicional Chinesa

       É comum ouvirmos depoimentos de pessoas que duvidavam dos benefícios da acupuntura até fazer uso dela e conhecer seus reais benefícios para saúde. Da mesma forma, ouvimos frequentes relatos de pessoas que aderiram à yoga e mudaram, para melhor, seu estilo de vida.  Práticas milenares da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) foram trazidas para o ocidente com a globalização e tornaram-se indispensáveis para melhorar a qualidade de vida de milhões de pessoas que até pouco tempo atrás não as conheciam. Mas, afinal, o que é a MTC?

       “A Medicina Tradicional Chinesa surgiu há milhares de anos na China e é constituída por um conjunto de modalidades de tratamento e de meios de diagnósticos que foram construídos a partir de uma concepção holística sobre a natureza do ser humano e suas relações com o mundo que o cerca e do qual faz parte”, definição disponível no caderno temático da MTC distribuído pela prefeitura de São Paulo (1). Suas modalidades de tratamento incluem: acupuntura, fitoterapia chinesa, orientações alimentares, massoterapia (tuiná, shiatsu), cuidados com o corpo (exercícios como o tai chi chuan), cuidados com a mente (meditação) e orientação sobre a forma de viver.

      A filosofia chinesa baseia-se no conceito de harmonia e equilíbrio do Yin e Yang e na teoria dos Cinco Movimentos. Podemos dizer, de forma resumida, que Yin e Yang são duas energias que compõe tudo o que há no Universo e que atuam de forma oposta, porém complementares (ex: escuridão e luminosidade, feminino e masculino, frio e quente, seco e úmido). A teoria dos Cinco Movimentos (Madeira, Fogo, Terra, Metal Água), por sua vez, relaciona os diferentes ciclos de manifestação da vida na Terra (ciclos da Lua, dia e noite, estações do ano) com o ser humano em seus diferentes aspectos (2).

      Segundo esta filosofia, existe uma circulação de energia vital (Qí) pelo corpo que se dá através de canais energéticos denominados meridianos, ao longo dos quais situam-se os pontos energéticos que são alvos de tratamento na acupuntura. O estado de saúde do indivíduo reflete como está o fluxo desta energia no organismo. Traçando um paralelo, podemos dizer que os meridianos transportam energia da mesma forma que os vasos sanguíneos transportam sangue.

      Estudos recentes que utilizam a técnica de Ressonância Magnética Funcional (fMRI) mostram que a estimulação de determinados pontos energéticos corresponde a ativação de áreas cerebrais específicas (3,4).  

      Ling Ling e cols (2012) revisaram os estudos que apresentaram o efeito da acupuntura revelados através da análise genômica para diferentes doenças (hipercolesterolemia, osteoartrite, doenças neuronais e rinite alérgica) e também para os benefícios de analgesia, imunomodulação e antiaging (4). Esta recente publicação nos apresenta quão amplo é o campo de atuação desta prática.

      As pesquisas atuais ainda apresentam os benefícios da acupuntura para as mulheres submentidas a tratamentos de Fertilização in Vitro (FIV), em que seu uso ameniza a ansiedade e favorece a fertilidade das mesmas (5,6).

      Felizmente, o acesso gratuito às sessões de acupuntura, garantido pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), criada em 2006 pelo Ministério da Saúde, permitiu que o número de tratamentos com esta prática crescesse significantemente no Brasil. Só na rede pública, entre os anos de 2007 e 2010 o número de sessões aumentou de 97.274  para 362.100, respectivamente, o que equivale a um aumento de 272%  (7).

      É importante destacar que uma das principais características da Medicina Tradicional Chinesa é que o processo de cura depende principalmente da própria pessoa, o que a faz assumir outra postura perante a vida, uma postura de “autocuidado”.  Para isto, ela precisa ampliar a consciência de si mesma e de sua relação com o meio (1).

      Existe um provérbio chinês que cai bem como fechamento do nosso diálogo e como um convite à meditação: “A gente todos os dias arruma os cabelos: por que não o coração?”

 

Referências:

Caderno Temático da Medicina Tradicional Chinesa. Prefeitura do Município de São Paulo. Secretaria Municipal da Saúde, 2003. Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/publicacoes/MTC_CadernoTematico.pdf. ;

Sidney Donatelli. Macro e Micro cosmos. Visão filosófica do Taoísmo e conceitos da Medicina Tradicional Chinesa. Volume 1 – Movimentos de Vida. SSUA Editora. São Paulo, 2007;

Liu H, Xu J, Shan B, Li Y, Li L, Xue J, Nie B. Determining the precise cerebral response to acupuncture: an improved FMRI study. PLoS One. 2012;7(11);

Lin LL, Wang YH, Lai CY, Chau CL, Su GC, Yang CY, Lou SY, Chen SK, Hsu KH, Lai YL, Wu WM, Huang JL, Liao CH, Juan HF. Systems biology of meridians, acupoints, and chinese herbs in disease. Evid Based Complement Alternat Med; 2012;2012:372670;

Sun ZG, Lian F, Zhang JW. [Effects of acupuncture combined Chinese material medica for tonifying shen and soothing gan on the anxiety and depression of patients with in vitro fertilization and embryo transplantation and on the treatment outcomes]. Zhongguo Zhong Xi Yi Jie He Za Zhi. 2012 Aug;32(8):1023-7. Acupunct Med. 2012 Nov 15;

de Lacey S, Smith CA, Paterson C. Building resilience: a preliminary exploration of women's perceptions of the use of acupuncture as an adjunct to In Vitro Fertilisation. BMC Complement Altern Med. 2009 Dec 12;9:50;

Dados disponíveis em: http://www.acupuntura.med.br/tag/medicina-tradicional-chinesa/. Consulta em: 08/12/2012;

Imagem disponível em: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/cd/Acupuncture_chart_300px.jpg