Atualmente há vários produtos para cabelos - shampoos, condicionadores, produtos para tratamento ...

Como as proteínas ajudam a manter a beleza dos seus cabelos

Fibras capilares antes e após o tratamento com ingredientes condicionantes. Robbins, C.R. (2002)

     Atualmente há vários produtos para cabelos - shampoos, condicionadores, produtos para tratamento, entre outros - que utilizam proteínas ou aminoácidos nas suas composições. Mas, você sabe qual a importância destes ingredientes para os cabelos?

     Alguns dos benefícios atribuídos às proteínas são descritos como melhora da força, aumento do volume e condicionamento. E como e por que estes ingredientes conseguem melhorar estes atributos? Para isto precisamos entender o que são as proteínas, os cabelos e como eles interagem.

     Proteínas são macromoléculas formadas por uma longa cadeia de aminoácidos unidos entre si por ligações peptídicas. Estas ligações podem ser “quebradas” criando as proteínas hidrolisadas, peptídeos ou aminoácidos. Cada proteína apresenta uma composição única de aminoácidos que influência as suas propriedades. Os aminoácidos podem ser catiônicos, aniônicos, polares e não polares, o que leva as proteínas a apresentarem cargas positivas e negativas exibindo comportamento anfotérico.

     As proteínas tem alta afinidade química com os cabelos, pois estes são predominantemente proteáceos, formados de queratina. As fibras capilares possuem potencial isoelétrico em aproximadamente pH 3,8 acima deste valor as fibras capilares tornam-se mais negativas e abaixo deste valor mais positivas.

     Os cabelos são constituídos de cutícula, cortéx, medula e cimento intercelular. A cutícula é a região externa dos fios responsável pela proteção química dos fios e é composta de material proteico e amorfo com alto conteúdo de aminoácido cisteína. O córtex, região interna e cristalina dos fios, é o elemento estrutural dos cabelos responsável pelas propriedades mecânicas e elásticas, tendo também cisteína na sua composição. O cimento é constituído basicamente por ácidos graxos e ceramidas e é responsável pela adesão das células cuticulares e corticais.  A medula é a região central do fio podem estar presente ou não e não tem ainda uma função especifica determinada.

     E como ocorrem as interações das proteínas e ou aminoácidos com os cabelos? Aminoácidos contendo enxofre (cistina e a forma oxidada dela a cisteína) podem se ligar covalentemente com os resíduos de cisteína dos cabelos formando as ligações dissulfídicas (S-S) que confere entre outras propriedades, alta resistência as fibras capilares. Aminoácidos catiônicos como lisina e arginina se ligam por interações eletrostáticas; aminoácidos contendo grupos amino e carboxílico (acido glutâmico e aspártico) por formação de pontes de hidrogênio.  Vários fatores podem interferir nestas interações tais como: massa molar e conformação das proteínas, pH, solvente e força iônica do meio.

     Sabendo-se que as proteínas tem alta afinidade com os cabelos o potencial condicionante destes ingredientes é bastante explorado. Proteínas de alta massa molar podem formar filmes, aderir nas cutículas e, usualmente, influenciar nas propriedades de brilho, lubricidade, frizz e maciez. Por outro lado, as de baixa massa molar e aminoácidos podem penetrar nas cutículas e atingir o córtex melhorando as propriedades de tensão-deformação como a força e elasticidade dos fios.

     Além disto, as proteínas dentro de uma formulação cosmética podem ser utilizadas como proteção de efeitos adversos da detergência, de tratamentos químicos e descoloração. São utilizadas também para estabilização das espumas e propriedades emulsificantes e detergentes.

     Hoje se encontram disponíveis proteínas extraídas de diversas fontes: animais, vegetais e marinhas, vendidas na forma hidrolisada (total ou parcialmente) e quaternizada. Estas últimas por apresentarem cargas positivas potencializam as interações com as fibras capilares que possuem cargas negativas.

     E como perdemos as proteínas dos nossos cabelos e quais danos teremos com estas alterações? Os cuidados diários, como lavar e pentear, a aplicação de altas temperaturas -chapinhas e secadores- e a realização de relaxamento, permanente e tinturas causam prejuízos aos cabelos. Entre eles pode-se citar alterações das ligações dissulfídicas ou solubilização e perda dos peptídeos, aminoácidos e ácidos graxos, levando a formação de pontas duplas, quebra, embaraço dos fios e perda de brilho.

     Recomenda-se o uso periódico de bons agentes condicionantes, tais como as proteínas, para diminuição destes danos. E como podemos trazer mais benefícios com o uso destes ingredientes? Sabendo-se que cada cabelo possui uma composição química diferente, pensando no tema da biomimética e nas técnicas de biologia molecular, poderíamos desenvolver uma proteína personalizada para ser aplicada em cada tipo de cabelo que restaurasse os danos trazendo de volta a beleza  dos seus fios? Quais outros caminhos de desenvolvimento podem ser vislumbrados dentro deste tema? Compartilhe!

 

Adriana Fregonesi é química formada pela UNICAMP e tem Doutorado em Ciências com ênfase em química de interfaces e superfícies. É colaboradora Natura e atualmente está no Núcleo de Especialidades Cosméticas.

Contato: adrianafregonesi@natura.net

 

REFERÊNCIAS

Robbins, C.R. “Chemical and Physical Behavior of Human Hair”, 4th, Springer (2002).

Schor, N.; Boim, M.A; Santos, O. “Bases Moleculares da Biologia, da Genética e da Farmacologia”vol. 1, Ateneu (2003) .

Schueller, R.; Romanowski, P. “Conditioning Agents for Hair and Skin. Cosmetics Science and Technology Series”vol 21, Marcel Dekker (1999).

Lochhead, R.Y. Cosmetics & Toliletries, 107 (1992).

Myers, D. “Surface, Interfaces and Colloids Principles and Applications”, John Wiley & Sons (1999).

Holmberg,K.; Jonsson, B.; Kronberg,B.; Lindman, B. “Surfactants and Polymer in Aqueous Solution”, Wiley (1998).

Goddard, E.D.; Gruber, J.V. “Principles of Polymer Science and Technology in Cosmetics and Personal Care. Cosmetic Science and Technology”, Marcel Dekker (1999).

 Fujii T.; Ito, Y.; Watanabe, T. Kawasoe, T. J Cosmet Sci. ,63(1), (2012).