Vamos imaginar que, durante um concurso de culinária, dois finalistas, João e Pedro, utilizaram suas receitas especiais para vencer a competição. ...

Colaboração, um modelo natural de sucesso para inovação

     Vamos imaginar que, durante um concurso de culinária, dois finalistas, João e Pedro, utilizaram suas receitas especiais para vencer a competição. João fez uma cobertura que aprendeu com sua avó e a receita está há anos em sua família. Pedro fez um recheio que aprendeu em um curso para formação de chefs. Os jurados experimentaram as obras finais, mas, nenhum dos dois ganhou o curso. Foi unânime a decisão de que o bolo perfeito seria a harmonização da cobertura de João com o recheio de Pedro. Atualmente, João e Pedro são sócios e a confeitaria tem como carro chefe o bolo que une as especialidades dos dois. Entre os demais produtos vendidos há uma série de criações de sucesso que unem o histórico culinário da família do Pedro com a técnica do João.

     A observação da natureza nos mostra que “unir” é um caminho de sucesso. Nos tempos de escola estudamos os clássicos exemplos de reprodução assexuada e sexuada. Ao avaliarmos estes dois modelos, fica evidente que a estratégia de reprodução sexuada permite a incorporação das diferenças e a criação do novo, o que gera vantagens para a sobrevivência. Já, a reprodução assexuada, que não permite a troca entre os indivíduos, gera cenários mais frágeis e desfavoráveis para a vida.

     Observe o esquema abaixo:

 

 

     Tanto no modelo A quanto no modelo B, houve um evento externo que alterou a bola azul, criando duas bolas distintas: a verde e a vermelha. No modelo A, as bolas verde e vermelha não podem se relacionar e compartilhar as suas diferenças. Neste caso, como o ambiente é favorável apenas à bola vermelha ela e seus descendentes sobrevivem, enquanto que as informações da bola verde desaparecerão com o tempo. Já no modelo B, as bolas verde e vermelha podem compartilhar as suas particularidades e gerar novidades. Neste caso, criam novas possibilidades de existência que podem ou não sobreviver ao longo do tempo no ambiente em questão. 

     A estória de Pedro e João, apesar de fictícia, ilustra eventos de colaboração que acontecem cotidianamente e, assim como a reprodução sexuada, mantém a dinâmica da incorporação de novidades para garantia do sucesso. Matthew Ridley, cientista e jornalista inglês, persiste na investigação para compreender “como o ser humano utiliza de forma conjunta os cérebros a fim de combinar e recombinar ideias para verdadeiramente se fundirem em algo novo e vantajoso”(1) . Esta é uma das questões também investigadas no campo da Inovação, que figura na atualidade como o principal mecanismo para garantir o crescimento das empresas. É sabido hoje que a abertura do processo de inovação nas empresas e a combinação das ideias, dos conhecimentos, das competências e das tecnologias, desenvolvidas externa e internamente, criam mais valor e vantagens competitivas (2,3).

     A observação do que acontece na natureza, e que garante a ampliação das possibilidades de geração de valor, inspira a Inovação da Natura a apostar em “novas formas de fazer”. Uma delas é criar ambientes para que os encontros aconteçam. Ambientes onde os fluxos de ideias, conhecimentos, competências e recursos em geral são estimulados e valorizados. Com os objetivos de colher mais elementos que suportam esta crença, de promover um ambiente de conexão e de incentivar a busca por oportunidades mútuas para colaboração em projetos e construção de parcerias, no mês de julho deste ano, o Núcleo de Inovação Natura Amazônia (NINA) realizou o “Conexão Natura Campus 2013 – Amazônia”.

     O NINA convidou os pesquisadores da região que submeteram propostas com relevância técnico-científica à “Chamada de Projetos Natura Campus” (realizada em 2012) e parceiros empresariais da sua rede para um encontro focado em oportunidades de colaboração em ciência e tecnologia no contexto amazônico. Para completar este cenário, agências de fomento capazes de alavancar possíveis projetos e iniciativas emergentes deste encontro também foram convidadas.

     Ao longo de um dia, os representantes destas instituições tiveram a oportunidade de se conhecer e, com base nos materiais previamente disponibilizados pela Natura, trazendo informações sobre as competências de cada um deles, realizaram 27 reuniões direcionadas, buscando oportunidades de atuação conjunta.

     A articulação desta rede fez surgir conversas sobre temas como Biodiversidade Amazônica, Bioprospecção, Química Verde, Óleos Vegetais e Biotecnologia, de onde emergiram:

       - 02 novas oportunidades para criação de convênios;

       - 08 conexões para aprofundamento em temas específicos;

       - O fortalecimento de 02 parcerias em andamento;

       - 02 trocas de iniciais de minutas para possível contratação de projetos.

     Como previsto, este movimento ampliou as possibilidades de inovação em rede e aproximou o NINA de novas oportunidades de ideias e projetos inovadores. Promovendo este campo de interação em rede, a Natura criou oportunidades de captura de valor para a região Amazônica.

     Esta experiência vai ao encontro dos princípios também observados na natureza para promoção da inovação, como a reprodução sexuada, e fortalece a ideia posta por Capra de que é necessário alimentar um “novo paradigma que concebe uma visão de mundo holístico – um mundo como um todo integrado, também podendo ser entendida como uma visão ecológica. A percepção ecológica profunda reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos: ela vê o universo não como uma coleção de objetos isolados, mas como uma rede de fenômenos que estão fundamentalmente interconectados e são interdependentes. A ecologia profunda reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos e concebe os seres humanos apenas como um fio particular da teia da vida” (4).

     E você? O que pensa sobre a colaboração como forma de inovar?

 

Bruno Oliveira é formado em Ciências Biológicas pela USP-SP e pós-graduado em Gestão de Negócios na Fundação Getúlio Vargas. Atualmente, atua na coordenação de redes, parcerias e fomento na Natura, desenvolvendo atividades de ativação de redes, negociação, contratação, captação e gestão de fomento com foco no Núcleo de Inovação Natura Amazônia.

Contato: brunooliveira@natura.net

 

REFERÊNCIAS

  1. Matthew Ridley, TED Talks, visto em: “When ideas have sex”, http://www.ted.com/talks/matt_ridley_when_ideas_have_sex.html
  2. Fredberg, Tobias, Elmquist, Maria and Olilla, Susane (2008). “Managing Open Innovation: Present indings and Future Directions”. Vinnova Report.
  3. Chesbrough, Henry. (2003). “The era of open innovation”. Mit Sloan Management Review, 33-41.
  4. Capra, A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Tradução Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 1996.256 p. Título Original: the web of life: a new scientific understanding of living systems.