Sustentabilidade

Rhaisa Navas

A andiroba (Carapa guianensis Aubl.) é uma árvore nativa da região amazônica ...

Beneficiamento das sementes e a qualidade do óleo de andiroba

A andiroba (Carapa guianensis Aubl.) é uma árvore nativa da região amazônica, a qual é bastante utilizada na medicina tradicional da região, sendo utilizada no tratamento de afecções de pele, em inflamações musculares e de garganta, e também como repelente de insetos 1,2.

A Natura, a partir do extrativismo vegetal em cooperativas do entorno da cidade de Bélem (PA), obtém as sementes de andiroba, matéria prima para a extração do óleo bastante utilizado em nossos produtos.

Após serem colhidas, as sementes de andiroba (com umidade média de 60%) apresentam uma grande atividade enzimática de hidrolases, as quais aceleram a hidrólise do óleo presente no interior das sementes. Devido a isso, as sementes devem passar por um processo de secagem antes do início do processo de extração a fim de garantir uma menor atividade das hidrolases e, com isso, obter um óleo com baixo teor de acidez, evitando, assim, a necessidade da realização do refino químico da matéria prima final para alcançar níveis de acidez aceitáveis para uso cosmético.

A secagem das sementes usualmente se dá em estufas elétricas, porém devido ao alto gasto energético, houve a necessidade do desenvolvimento de alternativas que estivessem disponíveis localmente para as cooperativas realizarem a secagem das sementes de andiroba. Com este objetivo, desenvolveram-se estufas artesanais construídas no estilo de palafitas com materiais disponíveis na região, como madeira e plástico (Figura 1).

 

 

Figura 1. Estufas artesanais construídas com madeira e cobertas com plástico nas cooperativas de extrativismo de sementes andiroba.

Devido ao clima quente da região amazônica, a temperatura interna das estufas artesanais permaneceu naturamente entre 25 e 35ºC, sendo uma temperatura ideal para a secagem das sementes.

Para avaliar a efetividade da secagem nas estufas artesanais e a qualidade das sementes após a secagem, foram retiradas amostras de sementes a cada 5 dias durante um período de secagem de 20 dias.

As amostras foram submetidas à análise de umidade e também se realizou a extração do óleo das sementes via prensagem mecânica, processo ambientalmente mais amigável, na Unidade Industrial de Benevides (UIB) da Natura. Após a extração, avaliou-se o teor de ácidos graxos livres (AGL) por titulação ácido-base3 do óleo obtido (Figura 2).

 

 

Figura 2. A) Medida de umidade das sementes de andiroba de acordo com o período de secagem nas estufas artesanais. B) Teor de ácidos graxos livres no óleo de andiroba cujas sementes permaneceram diferentes períodos na estufa nova.

Observou-se que as estufas artesanais foram efetivas na redução da umidade das sementes, tendo uma redução de 62% para 11,94% de umidade ao fim dos 20 dias de estudo (Figure 2 A).

Porém, o teor AGL do óleo de andiroba teve um aumento significativo depois dos 20 dias de estudo, indo de 0,85% no início do estudo para 9,1% no 20° dia. Este aumento de AGL, e consequente aumento na acidez do óleo, é devido à ação das hidrolases no interior das sementes durante o período de secagem. Apesar deste aumento no teor de AGL após a secagem, o nível de acidez está dentro dos níveis recomendados (<10%) 4. Assim, foi recomendado às cooperativas parceiras que a secagem das sementes seja feita por 20 dias antes de serem enviadas para a planta industrial para a extração de óleo.

Além deste estudo, realizou-se também a análise de cromatografia por exclusão por tamanho 5 (HPSEC – High pressure size exclusion chromatography) de duas amostras de óleo de andiroba, uma delas as sementes que originaram o óleo foram submetidas ao controle de secagem feito na estufa artesanal (secagem controlada) e na outra amostra as sementes não foram submetidas a nenhum controle durante a secagem (secagem não controlada), resultados obtidos encontram-se na Tabela 1.

 

 

 

Tabela 1. Composição em quantidade de triacilgliceróis (TG), diacilgliceróis (DG), monoacilgliceróis (MG) e ácidos graxos (AG) (%) e ácidos graxos livres (AGL) (%) do óleo de andiroba.

Observou-se que quando a secagem das sementes de andiroba não foi controlada o nível de triacilgliceróis sofreu redução, enquanto o nível de ácidos graxos livres aumentou, evidenciando que o aumento da acidez do óleo é causado pela hidrólise dos triacilgliceróis.

Estes dados mostram a importância do beneficiamento adequado das sementes de andiroba a fim de se evitar a degradação enzimática do óleo e se obter um óleo de alta qualidade garantindo seu uso pela indústria cosmética, sem a necessidade de refino químico do óleo.

         Além de aumentar a qualidade do óleo de andiroba, este estudo proporcionou outros benefícios para as cooperativas, pois com a secagem houve diminuição do teor de água das sementes, sendo que agora apenas o material seco passou a ser transportado, ao invés de água, reduzindo o custo de transporte e aumentando o lucro dos cooperados.

 

Bibliografia:

Lorenzi, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Plantarum: Nova Odessa, 1998.

Vieira, L.S. Fitoterapia da Amazônia: Manual de plantas medicinais, 2nd ed. Agronômica Ceres: São Paulo, 1992.

AOCS Official Method, American Oil Chemists’ Society, Official Methods and Recommended Practices Ca 5a -40. Fifth Edition..Editors of Analytical Methods. Whashington, D.C.,1997

Dorsa, R. Tecnologia de óleos vegetais, 1st ed. Ideal: Campinas, 2004.

AOCS Official Method, American Oil Chemists’ Society, Official Methods and Recommended Practices Fifth Edition..Editors of Analytical Methods. Whashington, D.C.,2004.