Bem-estar e Ciência das Relações

Carolina Lavini Ramos

Luz é a porção visível da radiação eletromagnética capaz de interagir com a matéria. ...

A luz que as células também enxergam

      O céu, as estrelas, uma imagem. Os cabelos loiros, ruivos, escuros; o espelho, aquela foto, aquele momento, aquele rosto, as cores. Uma obra de arte, o brilho do amanhecer e o colorido do entardecer. Na realidade o cenário dessas imagens que nos cercam é composto pela emissão, absorção e reflexão da luz. Mas afinal o que é a luz?

     Luz é a porção visível da radiação eletromagnética capaz de interagir com a matéria. A luz possui comportamento de ondas e variações nas suas propriedades, como seu comprimento e sua frequência,traduzem as diferentes cores observadas. Essas cores fazem parte de um pequeno espectro visível ao olho humano cujos comprimentos de ondas variam de 400 a 700nm.

 

 

 

 

Espectro de luz (Fonte:  Wikemedia)

     A distribuição espectral da energia solar é composta por cerca de 3-7% de UV(290-400 nm), 44% da luz visível (400-700 nm), e 53% de radiação infravermelho (IR, 700nm-1mm). A contribuição do componente UV sobre a pele tem sido bem estudada, e aplicada nas tecnologias de produtos para proteção solar, uma vez que causa danos agudos e graves após poucas horas de exposição. O componente UV é formado por três regiões de comprimentos de onda: UVC (absorvida pela camada de ozônio na atmosfera), UVB (atinge os queratinócitos , as células da camada mais superficial da pele), e UVA (penetra mais profundamente na derme). Por isso que os protetores solares atualmente possuem proteção contra os raios UVA e UVB, mas não contra IR nem luz visível. Acreditava-se até então, que os comprimentos de onda de luz visível e IR produziam apenas calor após sua absorção, sem causar algum dano subsequente. Apenas recentemente, estudos começaram a explorar os efeitos, inclusive térmicos, da radiação não-UV sobre a fisiologia da pele.

     Já é sabido que o aumento de enzimas que degradam colágeno, a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) e citocinas proinflamatórias na pele após radiação UV são causadores importantes de danos à própria pele, contribuindo para seu fotoenvelhecimento.

     Mas será que os  44% da radiação proveniente do sol, responsável pelo que conhecemos como espectro visível ao olho humano, também é capaz de causar danos semelhantes?

     Pesquisadores tem mostrado que sim.  Mas antes de entrarmos nos detalhes, éimportante ressaltar que a luz visível não pode ser tratada como vilã da história, pois assim como tudo na vida, deve ser aproveitada com parcimônia; é necessária para funções fisiológicas do organismo como produção de vitamina D além de ser utilizada positivamente, no tratamento de doenças como dermatite atópica e acne. Mais deixemos os tratamentos um pouco de lado por ora, pois serão discutidos mais adiante, em uma próxima oportunidade.

     Voltando aos mecanismos de ação, na pele humana, o espectro de luz visível em conjunto com IR pode aumentar a expressão de enzimas chamadas metaloproteinaises (MMP-1 e MMP-9), diminuindo a expressão de procolágeno, favorecendo o infiltrado inflamatório de macrófagos (células do sistema imune) (Cho,et al, 2010). Isso, em conjunto, contribui para uma inflamação na pele e danos prematuros de envelhecimento. Além disso, em testes in vitro sob a ação do espectro da luz visível, observou-se aumento de ROS, citocinas proinflamórias (IL-1α) e MMP-1 (Liebel,et al, 2012). Neste último caso o uso de moléculas antioxidantes agregadas a um protetor solar contra UVA/UVB, foi capaz de minimizar a formação de ROS causados pela luz visível, sugerindo um possível efeito benéfico de tais moléculas no controle do aparecimento precoce de sinais que contribuam para o envelhecimento. No entanto estudos futuros que contenham um maior número amostral além de dados mais aprofundados sobre possíveis mecanismos de ação dessa combinação, ainda são necessários para que se comprove a eficácia clínica desses resultados.

     Lembrando que hoje comentamos um pouco sobre a porção de luz visível, será que também devamos repensar sobre os cuidados no uso terapêutico, ou sobre seus possíveis danos à pele, causados pela radiação IR?

 

Referências Bibliográficas

Cho S, Lee MJ, Kim MS, Lee S, Kim YK, Lee DH, Lee CW, Cho KH, Chung JH.Infrared plus visible light and heat from natural sunlight participate in the expression of MMPs and type I procollagen as well as infiltration of inflammatory cell in human skin in vivo.J Dermatol Sci. 2008 May;50(2):123-33. Epub 2008 Jan 14.

Liebel F, Kaur S, Ruvolo E, Kollias N, Southall MD. Irradiation of skin with visible light induces reactive oxygen species and matrix-degrading enzymes. JInvest Dermatol. 2012 Jul;132(7):1901-7. doi: 10.1038/jid.2011.476. Epub 2012 Feb9.