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Natura Campus
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Temos discutido bastante sobre a importância em manter uma pele saudável, sobre as causas do envelhecimento, sobre as ações intrínsecas e extrínsecas de fatores que agem diretamente nos extratos que compõem a pele. Por isso penso que uma atenção especial deva ser dada à atriz principal. Uma atriz que sabemos que devemos cuidar bem, e até mimar, mas pouco sabemos sobre como de fato ela é.
A pele, o maior órgão de nosso organismo que contorna a forma de nossos traços, nos protege contra eventos do meio ambiente e é responsável pela constante manutenção do equilíbrio interno. A pele controla a temperatura corporal, produz vitamina D, nos protege contra agressores e agentes externos, absorve a radiação UV e é uma barreira a prova d’água. Para exercer essas complexas funções ela possui um sistema de reconhecimento e integração de sinais bem específicos para poder desencadear uma resposta protetora em nosso organismo.
Assim, entre as suas camadas, conhecidas como epiderme e derme, existem células sensoriais, pigmentares e de defesa que reagem a estímulos como temperatura, radiação e microorganismos, respectivamente. Além disso existe uma organização muito específica em cada estrato para que sua integridade seja mantida. Entre o contato com o tecido conjuntivo há uma região conhecida como lâmina basal que é formada principalmente por colágeno e glicoproteínas.
A capacidade da pele de funcionar como uma barreira protetora é dada por uma arquitetura muito peculiar do espaço extracelular de sua camada mais superior, em contato direto com o meio externo, chamada estrato córneo. Essa estrutura lipídica dupla é formada por uma mistura heterogênea de lipídios como ácidos graxos livres (FFA), saturados, ceramidas de cadeias longas (CER) e colesterol(CHOL).
Desde que foi descoberto em 1970 que o estrato córneo é constituído por lipídios, ele tem sido alvo de diversos estudos sobre sua estrutura. O estudo, principalmente, de sua estrutura molecular é de grande interesse para cientistas e para a indústria cosmética pois é a camada que está em contato direto com o meio externo e que recebe o primeiro contato com produtos que nela são aplicados.
Assim, em 2012 o grupo de Iwai e colaboradores utilizou uma metodologia baseada na crio-microscopia eletrônica de uma seção de pele vítrea (CEMOVIS) combinada com modelagem molecular e microscopia eletrônica para investigar a organização molecular da matriz lipídica da pele próximo ao seu estado nativo. Com esse método pode-se observar a estrutura molecular tridimensional da pele pois a intensidade das imagens captadas estava diretamente relacionada com a densidade eletrônica local da amostra.
Encontraram que a matriz lipídica é maleável e esta organizada em uma forma bilipídica empilhada preenchida por ceramidas (CER )totalmente estendidas, com moléculas de colesterol associadas à porção esfingóide da ceramida (CER)- a molécula da ceramida é formada por duas partes, uma chamada base esfingóide e outra chamada de ácido graxo.
Essa organização condensada, porém flexível, da bicamada lipídica com ceramidas estendidas e colágenos dispostos assimetricamente, explicam a baixa permeabilidade da pele para água e para as substâncias hidrofílicas e lipofílicas. Além disso, a partir do entendimento da organização da pele pode-se entender também como ela consegue manter a robustez de sua barreira em relação hidratação e desidratação, manutenção da temperatura e mudanças de pressão, compressão, flexão.
Segundo os pesquisadores, a relevância do trabalho está no modo como estudos futuros poderão ser direcionados. A descrição molecular do estrato córneo permite estudos mais detalhados e direcionados utilizando modelos in silico para verificar a interação entre componentes químicos e camada lipídica e a escolha de produtos específicos para drug delivery e reparo tecidual.
Referências Bibliográficas consultada e sugerida
Iwai I, Han H, den Hollander L, Svensson S, Ofverstedt LG, Anwar J, Brewer J,
Bloksgaard M, Laloeuf A, Nosek D, Masich S, Bagatolli LA, Skoglund U, Norlén L. The human skin barrier is organized as stacked bilayers of fully extended ceramides with cholesterol molecules associated with the ceramide sphingoid moiety. J Invest Dermatol. 2012 Sep;132(9):2215-25.
Norlén L, Oktem O, Skoglund U. Molecular cryo-electron tomography of vitreous tissue sections: current challenges. Microsc. 2009 Sep;235(3):293-307.