Bem-estar e Ciência das Relações

Carolina Lavini Ramos

Dentre as radiações a que estamos expostos, a UVB é parcialmente absorvida pela atmosfera ...

Protetores do DNA

Fator de proteção 6, 15, 30, proteção contra raios UVB ou fator de ampla proteção, contra UVA/UVB; biologicamente, o que isso significa?

Começar abordando a importância do uso de proteção solar não seria novidade alguma frente à ampla discussão que tivemos sobre todos os tipos de radiação e suas consequências que atingem diariamente nossa pele. Mas afinal, sobre quais males estamos nos protegendo?

 

 

 

Imagem: Wikemedia

Dentre as radiações a que estamos expostos, a UVB é parcialmente absorvida pela atmosfera, mas causa danos e queimaduras à camada mais superficial da pele. Já a UVA é mais constante durante todo o ano, mas pode atingir as camadas mais profundas da pele, causando danos à derme e até mesmo induzindo melanomas. Assim diferentes comprimentos de raios UV podem causar diversos danos no DNA inclusive mutações que contribuem para o desenvolvimento de câncer de pele. Assim o uso de protetor solar atualmente é a principal defesa contra os efeitos nocivos da radiação UV. Mas como a eficiência dessa proteção é medida?

Parâmetros específicos, como por exemplo, o SPF e PPD são utilizados pelos cientistas para mensurar o nível de proteção contra os raios UVA e UVB. O fator de proteção solar (SPF, do inglês solar protection factor) indica quantas vezes o tempo de exposição ao sol pode ser aumentado sem o risco de desenvolver eritema (coloração avermelhada da pele causada pela vasodilatação e inflamação decorrente da queimadura solar após a aplicação de 2mg/cm2 de produto). O escurecimento persistente da pele (PPD, do inglês Persistent Pigment Darkening) é a razão da dose UVA requerida para produzir alterações na estrutura dos melanócitos bem como na oxidação do pigmento melanina.

Mas todos esses parâmetros com relevância biológica refletem mudanças profundas que podem ocorrer no DNA das células, após serem atingidas por radiação UV.

Então por que não acrescentar um parâmetro molecular, que quantifique mudanças ao nível do DNA, e complemente as metodologias já existentes trazendo assim uma maior confiabilidade quanto à eficácia de proteção?

E foi exatamente essa a proposta feita em junho deste ano por Schuch e colaboradores em um trabalho publicado na revista PlosOne, a partir de um projeto de cooperação científica entre a Natura e a USP. Os pesquisadores demonstraram que o sistema proposto chamado dosímetro de DNA é eficiente tanto na quantificação de moléculas específicas de DNA quanto no fornecimento de informações mais completas a nível molecular a respeito da fotoproteção fornecida pelos protetores solares. Além disso, essa metodologia complementa as já existentes para medir a eficácia de um protetor solar, pois até o momento as medições consistem em parâmetros relacionados a respostas da pele, mas não à quantificação de possíveis moléculas relacionadas ao desenvolvimento de câncer.

Mas do que trata se trata essa inovadora metodologia?

O dosímetro de DNA avalia os efeitos biológicos da radiação UV a partir da indução de lesões na molécula de DNA.O fator de proteção para o DNA (DNA-SPF, do inglês Sun ProtectionFactor for DNA)foi calculado utilizando-se enzimas específicas de reparo do DNA, além de ter sido medida a indução de danos oxidativos e a geração de fotoprodutos no DNA.

Os resultados sugerem que os filtros solares testados são mais eficientes na proteção contra a geração de fotoprodutos do DNA do que contra danos oxidativos, apesar deste ainda ser um dos responsáveis pelo dano total causado pela radiação solar. Assim o dosímetro de DNA é capaz de fornecer informações sobre danos nos genes induzidos pela radiação solar, podendo auxiliar no desenvolvimento de produtos fotoprotetores mais eficientes.

Essas novas descobertas nos faz pensar que a tecnologia permite ampliar nossos conhecimentos e melhorar o desenvolvimento de produtos que contribuam para uma vida mais saudável. Nos mostra também que não mais podemos nos desvencilhar da biologia molecular e negar seu potencial em agregar novas informações à complexa e infindável rede de conhecimento.

 

Referência Bibliográfica

Schuch AP, Lago JC, Yagura T, Menck CF. DNA dosimetry assessment for sunscreen genotoxic photoprotection. PLoS One. 2012;7(6):e40344. Epub 2012 Jun 29.